— “Quem você chamou de negro?” — rosnou o tenente Cole, e suas palavras caíram sobre Regina McCal como um raio cortante e venenoso. — “Ninguém vai levar a sério um escravo como você.”
Regina McCal, general de brigada, conhecida no Pentágono simplesmente como General Regina, piscou, sem acreditar.
Não foi o peso das palavras que a surpreendeu, mas o olhar de Cole — um olhar que dizia que sua patente, méritos e honra não significavam nada.
— “Desculpe” — disse Regina, calma, mas firme. Sua voz era fria e inabalável como mármore. — “Qual é o problema, tenente?”
— “O problema é que você está sentada em um carro que não é seu e se vestiu como uma candidata militar” — zombou o tenente Henkins. Ele circulava o veículo, como se examinasse o terreno, embora estivesse apenas apreciando a provocação.
— “Placas do Pentágono, é? Quem te deu — uma prostituta?”
O sangue de Regina gelou. Dois homens incapazes de reconhecer uma placa falavam com ela como se ela não existisse.
— “Meu nome é General de Brigada Regina McCallum. Vocês dois estão violando…” — tentou protestar, mas Cole interrompeu abruptamente.
— “Cale a boca!” — rugiu, puxando um par de algemas. — “Não me importa se você é a versão negra da Michelle Obama. Este carro é roubado, e vou prendê-la.”
Antes que Regina pudesse reagir, eles a arrancaram do banco com força. O metal frio das algemas queimava seus pulsos enquanto a derrubavam no chão.
— “Não chore, querida” — sussurrou Henkins, com um sorriso repugnante. — “Talvez na prisão te tratem melhor. Ou você terá que limpar banheiros. Agora me dê o telefone.”
— “É melhor você não tocar em mim” — sussurrou Regina, sua voz vibrando com uma fúria gélida.
— “O seu telefone” — zombou Henkins, como se o SUV fosse dele. — “É um iPhone do governo? Olha só que decadência.”
Ele levantou o telefone até os olhos, como se fosse um troféu. — “Quem te deu isso, pequena negra? Você roubou ou pegou de alguém depois que…?”
Cole explodiu em uma risada cruel, carregada de décadas de ódio.
— “Não me surpreenderia se isso fosse um experimento de inclusão para soldados” — disse, apertando as algemas ainda mais. A pele de Regina queimava sob o metal. — “Agora dão patente para qualquer um. Olha só — ela até fala.”
Regina olhou para o chão, cerrando os dentes. — “Vocês estão violando protocolos federais” — resmungou, mal conseguindo articular as palavras.
— “E eu me importo, macaca?” — zombou Cole. — “Aqui só vale a minha lei. Na minha estrada, nenhuma preta arrogante que se acha melhor que eu dirige um carro assim.”
Henkins despejou papéis do porta-luvas, espalhando documentos pelo asfalto. — “Olha só, Cole — documentos secretos? Essa mulher acha que é alguém.”
Cole sorriu friamente. — “Talvez devêssemos chamar a imigração. Ou a fiscalização de animais.”
Regina permaneceu imóvel. Seus pulsos doíam, a pele queimava, o uniforme estava desgastado. — “Eles não têm ideia do que estão fazendo” — sussurrou.
Henkins agarrou seu queixo, forçando-a a olhar para cima.
— “Só sei de uma coisa: hoje à noite você vai estar numa cela — sem uniforme, sem nome. Lá fora você é ninguém.”
Cole pegou um dos papéis do chão — um documento fechado do Departamento de Defesa. — “Ei, Henkins — aqui diz: General de Brigada Regina M. Cal. Acredita nisso?”
— “Sim” — respondeu Regina, mal levantando o queixo. — “E se tiverem um mínimo de juízo, devolvem o telefone. Agora.”
Cole a atingiu. O golpe foi rápido e preciso. — “Mais uma, pequena negra” — rosnou perto do ouvido. — “Mais uma e você vai esquecer quem é.”
O golpe não a derrubou, mas a desequilibrou. O gosto de sangue encheu sua boca.
Ainda assim, Regina não chorou, não implorou. Apenas uma raiva fria e precisa ardia dentro dela.
— “Agora vê como as coisas funcionam, General” — cuspiu Cole, inclinando-se. — “Você não está mais no Pentágono — aqui é a minha estrada, minhas regras.”
Regina ergueu a cabeça, o telefone ainda na mão. — “Esta é uma linha direta. Se fizerem mais alguma coisa, vai explodir na cara de vocês” — disse.
— “O seu telefone!” — gritou Henkins, mas já era tarde: a ligação havia sido feita.
A multidão prendeu a respiração. Cole congelou. Henkins empalideceu. Regina permaneceu ereta, sangrando, mas intacta.
Minutos depois, três carros negros e não identificados pararam. Dois homens saíram, em ternos cinza, sem precisar mostrar crachá.
— “General McCal?” — perguntou um deles. — “Sim” — respondeu Regina, ereta. — “Confirma a coação?” — “Sim” — assentiu. O outro agente mostrou um crachá dourado. — “Senhores, abaixem as armas. Agora.”
Cole tremia. — “Quem é você?” — “Agência Federal de Proteção. Esta mulher, algemada, faz parte da liderança estratégica do Pentágono.”
O silêncio tomou conta. Regina levantou os pulsos. — “Tirem as algemas” — disse, e o agente clicou. Elas caíram.
— “Sabiam o que estavam fazendo” — disse o agente, friamente. — “Fiquem parados até que a jurisdição federal assuma.”
Cole murmurou. — “Só queríamos verificar…”
— “Verificar?” — interrompeu Regina, a voz tremendo por um instante, mas o rosto permanecendo firme. — “Vocês me chamaram de macaca, escrava, vadia. Algemaram, empurraram, cuspiram. Isso não é verificação — é ódio.”
O agente lhe entregou um tablet. — “Senhora, protocolo disciplinar. Quer registrar uma queixa?”
— “Ainda não” — disse. — “Quero que sintam — a incerteza de não saber quando cairá o fracasso. Se amanhã ainda terão suas insígnias.”
— “Ativaremos o protocolo” — acrescentou. Um ícone vermelho piscou. O tempo começou a contar.
— “Vocês ficam aqui” — disse o agente. — “Advogados do JAG estão a caminho. Terão advogado, mas a acusação será lida em algumas horas.”
Cole murmurou: — “Acusações?” — “Está tudo registrado” — respondeu o agente. — “Abuso de poder, perfil racial, agressão a oficial.”
Regina permaneceu ereta, o sangue secou em seu rosto. — “Não preciso gritar” — disse. — “Tenho patente. Tenho provas. Tenho tempo. O que vem não é bala — é uma queda lenta e pública.”
Os advogados do JAG chegaram em minutos. Crachás, armas e documentos foram imediatamente apreendidos.
Cole saiu cabisbaixo. Henkins pálido e trêmulo. Regina observou-os ir embora — silenciosa, forte, determinada.
O agente se virou para ela. — “Quer escolta, General?”
Ela recusou. — “Relatório médico?” — “Não. O que precisava ser feito, já foi.”
O sol se pôs sobre a rodovia, os carros negros desapareceram ao longe. A General de Brigada Regina McCal finalmente ficou sozinha — calma, forte, em paz consigo mesma.







