Aos 73 anos chamaram-na de louca por adotar um bebê com síndrome de Down mas o que aconteceu depois emocionou o mundo inteiro

ENTRETENIMENTO

Tenho 73 anos, sou viúva e moro na periferia de uma pequena cidade empoeirada no interior da região de Pest.

A maioria das pessoas imagina que uma senhora da minha idade só tem as agulhas de tricô e os programas de perguntas da tarde, e que se ela fica sentada quieta sem incomodar ninguém, está fazendo o que deve.

Mas a vida, como já aprendi tantas vezes, não pergunta se você está pronta para o próximo capítulo. Ela simplesmente abre o livro para você e vira a página.

Passei quase cinquenta anos na mesma casa antiga, com paredes rachadas e desgastadas, que meu marido, Jóska, construiu nos anos setenta.

Criamos dois filhos ali, foi onde eles deram os primeiros passos, aprenderam a falar, e foi também onde, escondidos, eles cortaram pela primeira vez a barba do pai, acreditando que isso os faria crescer.

Jóska – conhecido por todos como tio Jóska – era um homem barulhento, mas de coração generoso.

Ele sempre acordava primeiro, fazia café, ligava o carro, e até abastecia o tanque para mim, mesmo que nem pensasse que eu poderia esquecer.

Então, numa manhã de janeiro, quando a neve começava a derreter, Jóska partiu. Não se falou muito, só disseram que o coração dele parou. E junto com isso, algo também parou dentro de mim.

O silêncio após o funeral foi mais pesado do que tudo que eu conhecia até então. Cada tique-taque do relógio parecia mais alto, como se o tempo zombasse de mim pelas costas.

Numa noite, sentei no quarto, com a antiga camisa de flanela do Jóska no colo, que ainda guardava o cheiro de colônia e de seus cigarros de menta.

Olhei para a parede, para o prego de onde tirei o casaco dele, e senti que a casa inteira, talvez até o mundo todo, desabou.

Eu tinha gatos e cachorros, resgatados do abrigo ou da rua. Mas meus filhos sempre achavam estranho.

Minha nora, Laura, uma vez disse: “Essa casa fede. Mãe, você realmente virou aquela velha maluca dos gatos.” Ri na hora, mas por dentro doeu. Károly, meu filho mais velho, olhava tudo com nojo.

Com o passar do tempo, eles foram vindo cada vez menos. No fim, só apareciam no Natal – se apareciam. Mas eu sabia onde eles estavam. O Facebook não mente: casas à beira do lago, jantares com vinho, viagens à Toscana.

Num desses Natais, sentei à janela. O fogão estalava, o chá soltava vapor, mas o silêncio era um vácuo.

Lembrei do riso das crianças de antigamente, dos sons desafinados da trombeta do Jóska, dos latidos dos cachorros. Agora, a neve cobria lentamente as escadas, como se quisesse enterrar tudo o que um dia viveu naquela casa.

Tentei reconstruir algo. Frequentei um clube de jardinagem, ajudei na biblioteca, assei bolo de banana para os bombeiros, que agradeciam educadamente, mas nunca pediam mais.

O luto, porém, não foi embora. Estava comigo toda manhã, toda noite. Não chorei – apenas segui vivendo, como se pudesse viver sem ele.

Até que, numa manhã de domingo na igreja, tudo mudou. Fui ajudar a organizar as partituras nos fundos, quando ouvi duas mulheres conversando.

Uma falava de um bebê recém-nascido num orfanato, uma menina com síndrome de Down, que ninguém queria adotar. A outra deu de ombros: “Não vai dar certo. Dá muito trabalho.”

Algo se apertou dentro de mim. Me virei e perguntei: “Onde ela está agora?” Ficaram surpresas, não entenderam.

Mas eu sabia o que queria. Naquela tarde, fui ao orfanato, e lá estava uma menininha, nem sei quantos dias de vida, enrolada num cobertor fino, punhos fechados, fazendo sons delicados como a mais suave música.

Quando me aproximei, ela abriu os olhos. Olhos escuros e profundos – olhou para mim como se soubesse quem eu era.

Disse: “Vou levar ela comigo.” A assistente social quase deixou a caneta cair. Tentou me convencer a desistir. Mas eu já tinha decidido. Levei-a para casa. O nome dela, Klára, estava bordado no body pequeno. Assim ficou.

Quando Károly soube, apareceu vermelho de raiva. Gritou, bateu o pé, disse que eu morreria antes que a menina fosse para a escola.

Mas eu fiquei ali, perto do fogão, segurando Klára no peito e disse: “Então vou amá-la com cada suspiro meu, enquanto eu puder.”

Pouco depois, algo estranho aconteceu. Numa tarde, enquanto estendia as roupinhas da Klára no quintal, ouvi o som de motos. Onze carros pretos pararam na rua empoeirada.

As cortinas dos vizinhos tremeram, a senhora Caldwell quase deixou o chinelo cair. Homens sérios, de terno preto, saíram dos carros e caminharam até minha casa.

O líder deles tirou um envelope. Os pais de Klára eram jovens empresários de sucesso, que morreram tragicamente num incêndio pouco depois do nascimento dela. Klára era a única herdeira.

Apartamentos, terras, contas bancárias – tudo era dela, agora sob minha tutela.

Disseram para eu me mudar para uma mansão em Buda, contratar babá, enfermeira, tudo que pudéssemos precisar. Mas quando Klára olhou para mim e se mexeu em meus braços, soube o que devia fazer.

“Não” – respondi. “Ela não precisa de um castelo, mas de um lar. Não de funcionários, mas de família.” Vendemos tudo.

Gastei em duas coisas: criei a Fundação Klára, para dar chances a outras crianças como ela. E abri um abrigo para animais na campina – um novo lar para os velhos, feridos e abandonados.

Os anos passaram. Klára cresceu, riu, aprendeu. Os médicos diziam que talvez nunca falasse fluentemente – mas ela lia, escrevia, e uma vez até beijou um menino na biblioteca.

“Pelo menos sabemos que ela tem um coração” – disse sorrindo. Aos dez anos, num evento, pegou o microfone e disse: “Minha avó diz que eu posso fazer qualquer coisa. E eu acredito nela.” Foi a primeira vez que chorei de alegria.

Depois, ela se apaixonou por um garoto chamado Evan, que também tinha síndrome de Down.

Ele desenhava, trazia doces para os cachorros e olhava para Klára como se ela fosse o sol. Um dia, apareceu na minha casa, com as mãos suadas, e perguntou: “Posso amá-la? Posso cuidar dela?”

Respondi: “Mil vezes sim.”

O casamento aconteceu no jardim do abrigo, cercado por cães, gatos, coroas de margaridas, lágrimas e risos. Klára brilhava.

Eu sentada, com um gatinho no colo, lembrando cada palavra, cada crítica que já nos disseram. Que ela seria demais. Que eu era louca. Que destruiria a vida dela.

Hoje minhas costas doem, meus joelhos rangem, meu cabelo é todo branco. Meus filhos não ligam. Mas Klára está aqui. Evan está aqui. O abrigo prospera. A fundação ensina crianças a andar, cantar, se amar.

Recebo fotos, cartas. E sei: tudo isso aconteceu por causa de uma única menina.

Por Klára.

Ela deu sentido quando eu já não acreditava no amanhã. Trouxe luz para uma casa escura. E quando chegar a minha hora, não terei medo. Porque não escolhi riqueza nem sucesso, mas o amor.

E se alguém lê isso agora, só digo: não tenha medo de amar. Aceite quem os outros rejeitam. Às vezes, a menor alma mostra o que é viver de verdade.

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