Nossa gata ruiva, Sima, sempre foi especial. Desde filhote, havia nela uma sabedoria indescritível, algo que a diferenciava de todos os outros animais.
Ela não era apenas linda e dócil, mas também incrivelmente atenta, a ponto de às vezes parecer que lia nossos pensamentos. Quando estávamos tristes, ela vinha silenciosamente, se encostava em nós com seu corpinho quente.
Quando estávamos ocupados, ela não atrapalhava, apenas observava de longe, como se compreendesse que aquele não era o momento. E algo particularmente surpreendente: aceitava as regras com naturalidade.
Ela sabia que não podia entrar no nosso quarto e nunca, nem por curiosidade, tentou burlar isso. Parava diante da porta, observava por um instante, e então se afastava com dignidade.
Mas nas últimas semanas, algo mudou. O comportamento de Sima começou a preocupar. Já não era aquela gata calma e sábia que conhecíamos. Ficava inquieta o tempo todo, principalmente à noite.
Quase obcecada, passava horas sentada diante da porta do quarto, miando de forma triste, com um tom que nunca havíamos escutado antes.
Não era aquele miado comum de quem pede comida ou atenção – era um som doloroso, implorativo. Como se tentasse nos dizer algo que nós simplesmente não conseguíamos entender.
Durante o dia, a cena se repetia. Ela permanecia no mesmo lugar, imóvel, com os olhos fixos na porta, como se do outro lado houvesse algo ou alguém que ela precisava alcançar, que precisava ver.
Fizemos de tudo. Demos os melhores petiscos, brincamos mais, saímos para o quintal com ela, demos carinho, atenção, tudo que podíamos oferecer.
Chegamos a ligar para o veterinário, mas nada adiantava. Sima continuava parada, olhando a porta, e chorava.
Naquela noite, quando finalmente a deixei entrar no quarto, algo dentro de mim se partiu. Não suportava mais ver seu sofrimento.
Abri a porta, e ela entrou com cuidado, como se entendesse que aquele era um momento especial. Não correu, não pulou na cama – apenas caminhou devagar e se deitou aos nossos pés, em silêncio.
Dormiu como quem finalmente encontrou paz depois de uma longa jornada. Não se mexia, não ronronava alto, apenas permanecia ali, tranquila, como se tudo estivesse finalmente certo.
Mas ao amanhecer, nos deparamos com algo profundamente doloroso. Sima ainda estava deitada no mesmo lugar – mas não respirava mais. Nossa pequena companheira ruiva se foi.
Silenciosamente, com a mesma dignidade com que viveu. Não nos acordou, não reclamou, não fez alarde – apenas ficou conosco, uma última vez.
Naquela manhã, choramos sem parar. Era impossível acreditar que ela tinha partido. Por tantos anos esteve ao nosso lado, em todos os momentos, nas festas e nas tempestades. E agora, restava apenas o silêncio.
Alguns dias depois, enquanto organizávamos a sala, encontramos algo que nos emocionou de novo. Atrás do sofá, num pequeno vão, estava o esconderijo secreto de Sima.
Ela havia levado para lá todos os petiscos que lhe demos nas últimas semanas. Não os comeu – estavam ali, organizados com cuidado, como se ela não sentisse mais necessidade de comê-los.
Talvez ela já não tivesse apetite, ou talvez… talvez estivesse guardando para nós. Como um último presente silencioso, uma despedida à sua maneira.
Sima teve uma vida longa e feliz. E partiu como viveu: com amor, lealdade e uma serenidade tocante. Nunca pediu nada – apenas que, na sua última noite, pudesse estar perto de quem mais amava.
Não sabemos no que ela acreditava – se é que acreditava em algo – mas temos certeza de que, onde quer que esteja agora, continua a nos observar com aquele mesmo olhar profundo e sereno, que sempre nos envolveu.
Ela faz falta. Uma falta que não se explica.