Com fome e tremendo, quase não conseguiu ficar de pé

ENTRETENIMENTO

A chuva caía incessante há horas, encharcando o suéter fino de Tessa, que caminhava devagar, porém com determinação, pela calçada molhada.

Seus sapatos rangiam a cada passo, saturados de lama e água, enquanto avançava pelas ruas cinzentas e frias da cidade.

No ar, misturavam-se o cheiro úmido e frio do concreto com o aroma terroso das folhas em decomposição.

De longe, as luzes dos faróis dos carros atravessavam a cortina de chuva, mas ela seguia adiante, passo a passo, contornando a esquina, com a esperança renovada em cada poste que cruzava — quem sabe encontraria calor ou alguma ajuda.

Já fazia muito tempo que não comia algo decente. O último pedaço de comida que conseguiu foi meio pedaço de pão torrado e velho, retirado de uma lixeira atrás de um restaurante ainda pela manhã.

Desde então, seu estômago apenas rangia, uma dor aguda e crescente que lhe consumia as forças.

Tessa tentava afastar a sensação de fome e fraqueza, mas seu corpo dava sinais cada vez mais claros: tontura na cabeça, joelhos bambos, mãos trêmulas.

Então, ao reduzir o passo na próxima esquina, um chorinho baixo rompeu a monotonia cinzenta. Ela parou, inclinou a cabeça para o lado e avistou, ao lado da calçada, no ralo da água da chuva, uma pequena figura tremendo.

Era um filhote, completamente encharcado, com o pelo quase translúcido que mal o protegia do frio. Estava encolhido, como se gastasse toda sua energia lutando contra o congelamento.

Uma das patas dianteiras estava estranhamente dobrada para dentro, como se estivesse machucada ou tão fraca que ele mal conseguia se mover.

Tessa sabia que deveria seguir seu caminho, mas não conseguiu deixá-lo ali. Agachou-se e estendeu a mão cuidadosamente, como se quisesse dizer: “Não tenha medo, eu estou aqui.”

O cachorrinho ficou imóvel por um instante, mas sentiu o carinho e lentamente encostou o focinho molhado na palma da mão dela, como se tivesse esperado por aquele momento a vida toda.

Ela o envolveu no único pedaço seco do seu suéter, dando-lhe o nome de Bean, e o apertou contra o peito, embora seus braços trêmulos mal conseguissem segurá-lo.

Pensava no que fazer — os abrigos estavam lotados, os motoristas de ônibus não a deixavam embarcar, e um homem na frente da loja já a tinha expulsado dali. Estava sozinha, exausta no corpo e na alma.

Mesmo assim, seguiu adiante, com o filhote contra o peito, mas conseguiu andar apenas algumas quadras antes que seus joelhos cedessem, seu corpo parasse e ela caísse duramente no chão.

Por um instante, ficou imóvel, como se o mundo ao redor tivesse silenciado. Bean choramingou baixinho e tocou seu rosto, como se sentisse a força da dona esvaindo-se.

Tessa abriu os olhos lentamente, vendo apenas uma luz turva; o mundo girava ao seu redor até que uma sombra densa a envolveu.

Quando recobrou a consciência, o cachorrinho havia desaparecido. Seu coração pareceu partir ao meio, e reunindo suas últimas forças, levantou-se apoiada nos cotovelos e começou a chamar seu pequeno amigo em voz alta:

“Ei! Ei, meu amiguinho!” Apenas o silêncio e o som suave da chuva respondiam, enquanto lágrimas escapavam involuntariamente dos seus olhos.

Ela não chorava por si, mas porque aquele pequeno cachorro a tornara visível por um momento neste mundo frio — e depois a abandonara.

Enquanto o desespero e a dor a puxavam cada vez mais para baixo, passos pesados se aproximaram. Um homem de cerca de sessenta anos apareceu, vestindo uma capa amarela de chuva e segurando uma sacola de compras.

Não parecia ameaçador, mais um avô confiável. Perguntou se ela estava bem, observou com atenção a garota, suas roupas sujas, os machucados nos joelhos e perguntou se ela havia perdido o cachorro.

Ele tirou debaixo da capa o filhote frágil e tremendo, que ouvira choramingar no canto, supondo que alguém o procurasse. Tessa suspirou aliviada e recebeu o animal com gratidão.

O homem, que se apresentou como Ron, os convidou para uma refeição quente e abrigo.

Tessa hesitou — na rua não é comum receber ajuda de graça — mas a fome, a dor e o frio abafaram suas dúvidas, e ela aceitou o convite.

O pequeno apartamento apertado de Ron ficava acima de uma antiga loja, onde o cheiro do radiador quente misturava-se ao aroma da madeira.

Tessa recebeu roupas secas — antigas peças da esposa do homem — e uma tigela de sopa morna de frango enlatada. Não era luxo, mas era calor, e isso aqueceu seu corpo e alma.

Naquela noite, falaram pouco. Tessa estava cansada e envergonhada, mas antes de dormir, perguntou a Ron por que ele a ajudara.

Os olhos dele brilharam com tristeza, e contou que perdera a filha, que desaparecera quando jovem, e nunca conseguira ajudá-la. Talvez tentasse se redimir ajudando outras pessoas.

Com o passar dos dias, Tessa foi ganhando força e começou a trabalhar como voluntária em um abrigo de animais, onde finalmente sentiu que era necessária.

Cada pequena tarefa — passear com os cães, limpar os canis — devolvia sua confiança. Ron ouvia pacientemente, sem julgar, apoiando-a com sinceridade.

Meses se passaram, e Tessa transformou-se completamente. Não tremia mais de medo, seus passos eram firmes, conseguiu um emprego no abrigo e iniciou treinamento profissional.

Um dia, enquanto caminhava no parque com seu cachorro, reencontrou uma velha amiga, Denise, com quem dividira uma cama no abrigo tempos atrás.

Denise contou como a vida delas era difícil e como as chances de ajuda verdadeira eram poucas.

Essa conversa reforçou a determinação de Tessa de continuar os estudos e construir uma vida melhor. Ela acabou conseguindo o diploma do ensino médio e iniciou a formação para ser técnica em veterinária.

Anos depois, fundou a organização sem fins lucrativos The Second Paw, que oferece abrigo e apoio a jovens mulheres em momentos difíceis, em homenagem ao pequeno Bean, que mudou sua vida.

Na inauguração estavam Ron, Denise e, claro, Bean, agora um cão saudável e alegre. Tessa dirigiu-se às jovens garotas:

“Vocês não estão quebradas, apenas feridas. E sempre há tempo para a cura.”

Pois às vezes é uma criatura perdida, fria e tremendo que traz a esperança que pode dar uma nova vida mesmo nos momentos mais sombrios.

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