Quando nos mudamos para aquela casa antiga, que emanava tranquilidade, na beira da floresta, sentimos que finalmente havíamos chegado ao nosso destino.
A casa era, sem dúvida, antiga – com o assoalho rangendo e o papel de parede um pouco desbotado – mas havia nela algo especial, algo acolhedor.
Os raios dourados da luz da manhã entravam por todas as janelas, como se a própria serenidade tivesse vindo morar conosco.
Nossa filhinha corria alegremente pelos longos corredores, meu marido carregava a última caixa com um sorriso no rosto, e eu, parada na soleira da porta, pensava: não poderia ser melhor.
Até nosso cachorro, Rada, parecia completamente à vontade.
A jovem e alerta doberman explorava cada cômodo com curiosidade, farejava cada canto cuidadosamente e, por fim, deitou-se no canto do quarto, como se dissesse: “Este lugar agora é nosso.”
Os primeiros dias foram perfeitos. Acordávamos com o canto dos pássaros, à noite tomávamos chá na varanda enquanto o vento brincava com as folhas das árvores. Havia silêncio na casa – um silêncio pacífico, reconfortante.
Mas isso não durou muito.
Já na primeira semana depois da mudança, percebemos algo estranho. Rada, todas as noites, na mesma hora, entrava no quarto e sentava-se no canto direito.
Ficava imóvel, quase como em transe, olhando fixamente para a parede. Seu olhar era duro, rígido, como se enxergasse algo invisível.
No começo, ela só permanecia em silêncio, mas depois de alguns dias começou a rosnar fundo, de forma abafada. E então a latir.
Cada vez mais alto, cada vez mais furiosamente. Às vezes pulava e começava a arranhar a parede – como se quisesse enterrar algo… ou desenterrar.
Tentamos afastar a ideia de que fosse algo sobrenatural. Talvez um rato escondido, algum som que não conseguimos ouvir.
Talvez os cheiros antigos da casa a incomodassem. Mas Rada era diferente. Em todos os outros cômodos estava alegre e calma. Só naquele canto do quarto — como se algo a tivesse hipnotizado.
Durante as noites, nossa paz desaparecia. Seu latido nos despertava várias vezes.
Às vezes ficávamos acordados até o amanhecer. Ficávamos cada vez mais tensos. Nada ajudava — nem repreendê-la, nem mimá-la. Havia algo ali — não dava mais para negar.
Em uma madrugada, depois de Rada latir por horas para a parede, meu marido olhou para mim.
Seus olhos estavam vermelhos de tanto cansaço, o rosto pálido. Disse: “Há algo escondido naquela parede. Precisamos descobrir.” E eu apenas assenti, sem dizer uma palavra.
No dia seguinte, chamamos o André, um pedreiro de confiança que conhecemos há anos. Não foi fácil convencê-lo — difícil levar a sério o pedido de quebrar a parede por causa do latido de um cachorro.
Mas quando viu o comportamento de Rada — aquela atenção tensa e concentrada — ele também ficou sério.
Começou a quebrar a parede com cuidado. O gesso rachava, a poeira subia, o ar ficou pesado e sufocante. Quando a abertura apareceu, os três recuamos assustados.
Atrás dela havia uma cavidade escura e estreita. Fria e mofada — um lugar que ninguém via há décadas. E lá, no fundo, repousava uma caixa metálica enferrujada.
Com mãos trêmulas, abrimos a caixa cuidadosamente. Seu conteúdo era chocante: pequenos ossos acinzentados.
Um sapato de criança empoeirado. Um bichinho de pelúcia esfarrapado. E uma lata velha e desbotada. A visão era ao mesmo tempo comovente e aterrorizante.
Ligamos imediatamente para a polícia.
As autoridades iniciaram uma investigação minuciosa. Em poucos dias soubemos: em 1987, uma menina de oito anos desapareceu daquela casa.
Pensaram que ela havia fugido — não havia sinais de violência, e os pais a procuraram desesperadamente.
O caso foi encerrado. A mãe adoeceu de tanto sofrimento e faleceu pouco tempo depois. O pai se mudou, e toda a história caiu no esquecimento.
Agora, o processo foi reaberto. A polícia suspeita que o culpado ainda vive — em algum lugar, em liberdade. Talvez tenha passado a vida tentando esquecer o que fez. Mas Rada não esqueceu.
Desde então, ela não se aproxima daquele canto. Como se soubesse que o segredo veio à tona.
Não late, não rosna, apenas voltou ao seu lugar — voltou a ser calma, atenta, fiel.
E nós… agora olhamos para as paredes da casa de outra forma. Porque sabemos: às vezes o passado não se deixa enterrar. Às vezes, os olhos de um animal veem mais do que qualquer um de nós seria capaz.