Em um dia escaldante de verão, quando o ar parecia tremer de calor, Slávik caminhava para casa após um turno exaustivo.
As ruas estavam desertas, como se as pessoas tivessem desaparecido no calor, buscando abrigo na sombra ou em locais com ar-condicionado.
O sol queimava o asfalto, e a cada passo o calor subia do chão, envolvendo seus pés.
Quando Slávik virou na trilha familiar ao lado do antigo supermercado, parou de repente.
Não foi o cansaço, nem alguém conhecido – foi algo totalmente diferente: um choro baixo e desesperado de criança vinha de dentro do calor sufocante.
Seu coração disparou ao olhar ao redor. O estacionamento estava quase vazio, apenas um carro estacionado à sombra – um modelo importado de luxo, com vidros escurecidos.
O som vinha dali. Slávik se aproximou com passos pesados e viu: dentro do carro, um menininho, talvez com um ano de idade, rosto avermelhado, olhos semiabertos, boca rachada de sede.
Tentou abrir a porta imediatamente, mas estava trancada. Rodeou o veículo – todas as entradas estavam fechadas. Por um instante, gritou:
– Alguém! Socorro! – mas ninguém respondeu.
Foi então que viu uma pedra caída perto da calçada. Uma voz sussurrou em sua mente: “Não faça isso, é contra a lei!” Mas seus olhos voltaram à criança, cuja vida dependia daquele momento.
Sem mais hesitar, pegou a pedra e com um golpe forte quebrou o vidro do carro.
Um calor sufocante escapou de dentro do veículo. Slávik arrombou a porta, soltou o cinto e pegou o menino nos braços – ele mal respirava.
Saiu correndo. A unidade de saúde mais próxima ficava a dois quarteirões dali. Corria como se nada mais importasse no mundo além daquela pequena vida.
Ao entrar no pronto-socorro, gritou:
– Socorro! Criança no carro, passando mal pelo calor!
Uma enfermeira correu de imediato e pegou o bebê de seus braços. Disseram que ele havia chegado a tempo – o menino estava salvo.
Mas não se passaram nem quinze minutos quando uma mulher entrou no hospital. Assim que viu Slávik, em vez de gratidão, veio a fúria:
– Foi você que quebrou o vidro do meu carro? – gritou. – Tá maluco? Só entrei no mercado por um minuto, deixei meu número no vidro!
Slávik olhou para ela, atônito. Um minuto? Nesse calor escaldante?
– Vai pagar pelo prejuízo, e já estou ligando para a polícia! – disse ela, sacando o telefone.
Quando os policiais chegaram, a situação tomou um rumo inesperado.
Um deles, de estatura baixa e gestos firmes, ouviu o relato de Slávik e então voltou-se para a mulher:
– A senhora deixou seu filho preso num carro trancado, sob mais de trinta graus, sem janelas abertas?
– Foi só por um instante… – balbuciou a mulher.
– Isso é considerado grave risco à integridade da criança. A senhora pode perder a guarda e responder criminalmente – respondeu o agente, com frieza.
O rosto da mulher empalideceu.
– E você, rapaz, agiu com coragem e salvou uma vida. É lamentável que alguns pais sejam tão ingratos. Você é um verdadeiro herói – disse o policial, acenando em aprovação para Slávik.
Slávik ainda tremia, parado ali. Não queria punições para ninguém, nem elogios para si. Apenas fez o que achava certo quando viu uma criança em perigo.