Alla Petrovna atravessou silenciosamente o apartamento. Não desviou o olhar para a direita nem para a esquerda, ignorando completamente a saudação constrangida de Victor.
Tinha um único objetivo: alcançar o quarto onde sua filha repousava. Parou por um instante na porta.
Lá dentro, Zoina estava pálida, fraca, quase imóvel. Seu corpo exibia pontos frescos, lembrança dolorosa da cirurgia realizada no dia anterior.
O rosto de Alla endureceu. Seus olhos brilharam com uma intensidade quase elétrica, como se pressentisse o que havia acontecido.
Sua voz cortou o silêncio com uma força arrebatadora, impossível de ignorar. Gritou o nome do filho com a intensidade de uma mãe que sente seu filho ameaçado.
Victor surgiu na porta, tentando formar um sorriso incerto, que logo se transformou em desconforto evidente.
Tentou adotar um tom educado, como se nada estivesse errado.
Mas Alla o calou com uma palavra firme e contundente.
Seu rosto agora refletia uma ira aberta. Suas palavras foram rápidas, claras e irrefutáveis.
Perguntou como ele poderia esperar que a filha, recém-operada, tivesse que servir a qualquer um.
Victor tentou justificar dizendo que sua mãe e irmã haviam chegado, e alguém precisava preparar a comida.
A resposta veio como um raio: os visitantes deveriam ir a um restaurante se estivessem com fome. Zoina precisava se recuperar.
Da sala, chegaram sons de discussão. Duas vozes femininas se exaltavam, discutindo quem deveria cozinhar o jantar.
Alla avançou em direção a elas sem hesitar.
Com um tom cortante, porém educado, apresentou-se como mãe de Zoina.
Uma das mulheres levantou-se irritada, enquanto a outra observava, hesitante.
A mais velha perguntou por que a filha de Alla não deveria cozinhar, já que era seu dever.
Alla respondeu com uma risada cheia de desprezo.
Contou como Zoina trabalhava doze horas por dia para pagar os estudos de Victor e garantir a base da vida em comum.
E agora, após a cirurgia, em vez de descansar, esperavam que ela os servissem.
A irmã de Victor murmurou algo sobre terem vindo de longe.
Alla retrucou secamente: por isso mesmo, que fossem ao restaurante, ou que Victor cozinhasse.
Victor tentou intervir, mas não teve chance. Alla já segurava o telefone na mão.
Informou que levaria Zoina no dia seguinte. O médico havia prescrito repouso absoluto, e ela cuidaria da filha.
Se alguém tentasse impedir, ela revelaria como tratavam a esposa enferma.
Victor ficou pálido. Sabia as consequências que isso poderia trazer se tudo viesse à tona.
Tentou negociar, mas não obteve resposta.
Alla apenas se voltou para Zoina e disse suavemente que o quarto estava preparado em casa, os remédios à disposição, e que agora cuidaria dela.
Lágrimas escorreram dos olhos de Zoina, não de dor, mas de alívio. Finalmente alguém estava verdadeiramente ao seu lado.
As duas visitantes começaram a arrumar suas coisas em silêncio. Uma delas resmungou que não esperava aquela situação.
A voz de Alla encerrou a conversa. Não havia espaço para debate.
Quando o apartamento ficou silencioso, Victor ficou sozinho. Sentou-se na sala e ficou olhando no vazio.
Foi então que compreendeu o verdadeiro significado da perda. Não apenas da esposa, mas da dignidade que um dia teve.
Na manhã seguinte, enquanto a cidade ainda dormia sob a penumbra, Victor reapareceu. Levava um buquê de flores, seus gestos eram hesitantes e o rosto, humilde.
Pediu em voz baixa a chance de pedir desculpas e aprender a ser um companheiro digno.
Alla o observou por um longo momento, em silêncio. Finalmente abriu a porta.
Disse apenas uma coisa: primeiro aprenda a cozinhar. Zoina precisa de uma boa canja.
Victor assentiu. Pela primeira vez, não veio para pedir, mas para oferecer.