Cyril já havia perdido a conta de quantas vezes atravessara as portas daquele hospital. Cada visita o arrastava para um ciclo exaustivo de desgaste físico e uma raiva silenciosa que fermentava em seu peito, uma mistura amarga de cansaço e desespero que parecia não ter fim.
Ele nunca usava o elevador. Sempre subia as escadas — não por força do hábito ou para cuidar da saúde, mas para fugir das conversas vazias, dos olhares condescendentes e do peso invisível que o obrigava a fingir preocupação.
Naquela manhã cinzenta, levava consigo um pequeno buquê de rosas brancas. Larissa, sua esposa, permanecia desacordada há semanas, mergulhada num silêncio pesado e profundo, alheia a tudo e a todos.
Mas aquelas flores não eram para ela. Eram para as enfermeiras exaustas, para os médicos que mal tinham tempo de respirar, para os familiares que ali estavam — um gesto frágil, uma máscara tênue de cuidado para esconder a verdade brutal que Cyrill carregava dentro de si.
A cada dia que Larissa se agarrava à vida, a conta bancária de Cyril minguava como areia que escapa pelas mãos. Máquinas que apitavam, remédios caros, turnos intermináveis de cuidados — tudo consumia sua energia e seu dinheiro.
O peso das despesas sufocava seu peito, e ele sentia a fortuna escorrer por entre os dedos, implacável como a maré.
Enquanto todos ao redor se agarravam à esperança, Cyril sentia apenas um vazio gélido dentro de si.
E se Larissa nunca acordasse? A fortuna, o imóvel, os negócios — tudo cairia sobre ele, um fardo pesado demais para suportar. Essa ideia corroía sua alma, provocando um misto terrível de culpa e alívio, emoções tão conflitantes que ele não tinha coragem de encarar.
Quando entrou no quarto asséptico, o ar frio da enfermaria o envolveu. Ele se curvou sobre o corpo imóvel dela, sua voz fraca mal saindo como um suspiro:
— Larissa… eu nunca te amei de verdade… não do jeito que você acreditava.
Sua voz quebrou, afogada por uma amargura que ele mesmo não compreendia completamente.
— Essa doença me destruiu. Se você pudesse… só… deixar ir… tudo seria mais fácil para nós dois.
O que ele ignorava era que alguém se escondia debaixo da cama.
Mirabel, uma voluntária do hospital, tinha se escondido ali para escapar de Cyril — e ouviu cada palavra cruel e desesperada que ele sussurrou.
Mais tarde, quando Harland, pai de Larissa, chegou ao hospital, Cyril vestiu a máscara do marido dedicado. Harland, cansado e aflito, perguntou se havia alguma mudança.
Cyril respondeu com frases ensaiadas, vazias de sentimento, mas o olhar penetrante de Harland não o deixava enganar.
Mirabel lutava com o peso da verdade que carregava. Falar podia custar-lhe o emprego, mas permanecer em silêncio poderia custar a vida de Larissa. No fim, decidiu agir.
— Ele disse que estaria melhor se ela morresse — contou a Harland, com voz trêmula.
O rosto do homem empalideceu, mas ele assentiu devagar, confirmando suspeitas que já vinha guardando.
Imediatamente, Harland providenciou alguém confiável para vigiar Larissa noite e dia.
No dia seguinte, quando Cyril voltou, a atmosfera estava diferente, pesada. Os olhos atentos de Mirabel acompanhavam cada gesto dele, enquanto o olhar gélido de Harland era um fardo esmagador sobre suas costas.
Cyril tentou manter a farsa, mas logo Harland o puxou de lado, com uma voz afiada como uma lâmina:
— Se você machucar ela, nem que seja um pouco, de novo — avisou — vai perder tudo o que tem.
Cyril ignorou o aviso, até que os dedos de Larissa se moveram levemente. As pálpebras dela tremularam. Algo dentro dele se partiu em mil pedaços.
Memórias inundaram sua mente — o calor do riso dela, a força inabalável, a fé cega que ela depositava nele. E com essas lembranças veio uma onda devastadora de vergonha.
Enquanto Larissa despertava lentamente, Cyril sussurrava desculpas entre lágrimas silenciosas.
Os dias se transformaram em semanas. Larissa ganhou força, e Cyril permaneceu ao lado dela — não por obrigação, mas porque queria, porque finalmente sentia amor.
Harland e Mirabel mantiveram a vigilância, e até eles notaram a transformação em Cyril.
Quando Larissa recebeu alta, olhou para ele com ternura e disse:
— Você ficou. Obrigada.
Engolindo o nó na garganta, ele respondeu:
— Sinto muito por ter demorado tanto para entender o que realmente importa.
O futuro era incerto, mas a amargura que um dia envenenou suas vidas havia dado lugar a algo frágil e verdadeiro. Uma chance para recomeçar, para reconstruir.