“Uma criança deixada ao frio. Uma família construída no amor. Mas 17 anos depois, tudo muda com uma única frase…”

ENTRETENIMENTO

A noite de novembro tinha uma magia particular. A luz suave dos postes de rua mal conseguia vencer o frio, e o vento brincava com os primeiros flocos de neve que dançavam no ar como pequenas estrelas cadentes.

Gál Lilla e seu marido, Miklós, voltavam lentamente para casa, depois de um jantar de aniversário na casa de amigos. Caminhavam de braços dados, envoltos em um silêncio quase sagrado.

— Olhe só essa neve… parece um conto de fadas — suspirou Lilla, agarrando-se mais ao braço do marido.

— Sim… maravilhoso — respondeu Miklós com um sorriso suave. — Silêncio, paz… Finalmente uma noite tranquila.

Mas aquela paz foi abruptamente interrompida por um som agudo. Um choro. Fraco, mas insistente.

— Espere um pouco… — disse Lilla, parando de repente. — Você ouviu isso?

— Sim… É um bebê chorando! — Miklós arregalou os olhos e virou a cabeça para identificar de onde vinha o som.

— Quem sairia para passear com um bebê nesse frio? — sussurrou Lilla, intrigada e preocupada.

Apurando os ouvidos, seguiram o som. Chegaram a um banco parcialmente coberto de neve. E ali… uma pequena trouxa. Inerte. Coberta por um cobertor rasgado e empapado de neve. Miklós se abaixou e puxou o tecido com cuidado.

— Meu Deus, Lilla… É um bebê!

Lilla correu e, com as mãos tremendo, tomou o pequeno corpo nos braços. Era uma menina. Estava congelando.

— Uma menininha… completamente gelada… — sussurrou com os olhos marejados. — Como alguém pode ser tão cruel?

— Vamos levá-la para casa. Imediatamente! — disse Miklós, decidido.

Já em casa, ligaram o aquecedor ao máximo. Lilla, como por instinto, começou a cuidar da pequena. Retirou o cobertor molhado, limpou com delicadeza cada dedinho, cada pedacinho de pele.

— Miklós, vá à farmácia agora. Precisamos de leite, mamadeira, fraldas… o que conseguir. Rápido!

Sem hesitar, Miklós pegou o casaco e saiu porta afora.

A bebê chorava de frio, os mãozinhas e pezinhos roxos. Lilla a envolveu com seu próprio suéter e a embalou com ternura.

— Tudo bem, meu amor… estou aqui… ninguém vai te machucar…

Miklós voltou em quinze minutos com uma montanha de sacolas.

— Trouxe três tipos de fraldas descartáveis, não sabia qual seria melhor… — disse, ofegante.

— Está perfeito. Venha, me ajude — respondeu Lilla com um sorriso emocionado.

Alimentaram a pequena com o leite morno. Ela mamava com voracidade. Lilla não conteve as lágrimas.

— Tão faminta… Quem sabe há quanto tempo estava sozinha…

Miklós a olhou com ternura, mas também com preocupação.

— Amanhã teremos que informar as autoridades. Isso é sério.

Lilla assentiu, relutante, acariciando o rostinho adormecido.

— Eu sei… mas parece… parece que ela já é nossa.

Na manhã seguinte, a porta se abriu para dois visitantes sérios: o sargento Jeges e Éva Varga, da assistência social.

— Gál? Recebemos a notícia de que encontraram uma criança ontem à noite?

Miklós confirmou, narrando os detalhes. Éva se aproximou do bebê com cuidado. Ela sorriu ao ver o bom estado da criança.

— Está bem cuidada. Mas infelizmente, terei que levá-la.

— Não… — murmurou Lilla, mas já era tarde. A menina começou a chorar quando foi tirada dos seus braços. Lilla soluçava.

— Vamos perdê-la… — sussurrou.

— Talvez não — respondeu Miklós, firme. — Podemos tentar adotá-la. Vamos lutar por ela.

Naquela noite, conversaram longamente. Relembraram os anos de tentativas frustradas, os exames, as perdas. E agora, um milagre.

— Se ela está aqui… deve haver um motivo — disse Lilla, fitando o berço antigo, que ainda guardavam.

— Amanhã daremos entrada no pedido. Vamos fazer de tudo.

Passaram-se três meses. As investigações não encontraram os pais biológicos. A pequena, agora chamada Zsófi, se tornou adotável. Lilla e Miklós foram os primeiros a entrar com o processo.

Éva os visitou várias vezes. Ficou impressionada com a dedicação e o amor do casal.

— Vocês são pais ideais. Tudo está a favor de vocês. Mas o processo leva tempo.

— Por favor, Éva… — pediu Lilla, com os olhos brilhando de esperança. — Ela é nossa filha de coração. Não imaginamos mais a vida sem ela.

Éva assentiu. Já vira muitos casos, mas raros com tanta entrega.

Então chegou o telefonema tão esperado.

— Boa tarde, aqui é Varga Éva. Tenho uma excelente notícia. A adoção foi aprovada. Zsófi agora é oficialmente sua filha.

Lilla desabou em lágrimas no ombro do marido.

— Ela é nossa, Miklós! Nossa menina!

Zsófi cresceu rodeada de amor. Lilla largou o trabalho e se dedicou à maternidade. Miklós manteve a estabilidade financeira com sua carreira de consultor.

Zsófi era brilhante. Curiosa, doce, generosa. Na escola, era adorada. No ensino médio, os professores diziam:

— Essa menina vai ser uma professora brilhante!

Ela acreditava nisso. E terminou o colégio com mérito e medalha de ouro.

Na noite do baile de formatura, Lilla observava a filha com orgulho:

— Olhe para ela, Miklós… parece que foi ontem que a encontramos no banco de parque.

— Acho que foi naquele momento que nossa vida realmente começou.

Enquanto jantavam, uma batida forte interrompeu a paz.

— Quem seria a essa hora? — perguntou Lilla.

Miklós abriu a porta. O sorriso desapareceu instantaneamente.

Do outro lado, um casal maltrapilho. A mulher com roupas rasgadas e rosto marcado pela bebida. O homem, sujo e desequilibrado.

— Aí está você, minha menina! — exclamou a mulher, invadindo a casa.

— Você é nossa filha. Nosso sangue! — acrescentou o homem.

Zsófi se levantou, assustada.

— Quem são vocês?!

— Somos seus pais! Sua mãe e seu pai verdadeiros! — respondeu a mulher.

Zsófi recuou, pálida.

Miklós se colocou entre eles.

— Saiam da minha casa. Estão embriagados e…

— Cala a boca! — gritou a mulher. — Ela é nossa! Temos direito!

— Direito?! — a voz de Lilla tremeu. — Direito vocês perderam quando a deixaram sozinha numa noite gelada, num banco de parque!

E naquele momento, a história deu uma nova reviravolta… mas uma coisa era certa: Lilla e Miklós não iriam desistir de Zsófi. Nunca mais.

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