Quando Marta entrou no restaurante elegante, foi como se um novo mundo se abrisse diante dela.
Sob a luz dos lustres cintilantes, o vestido de veludo azul-marinho, recebido naquela noite, capturava os reflexos dourados. Seus cabelos recém-lavados e presos com precisão refletiam a luz com um brilho suave.
Mesmo assim, sentia que poderia ser desmascarada a qualquer instante. Estava ali como uma estranha em sua própria pele, com o coração disparado como um tambor em alerta.
Algumas horas antes, quando Natan fechou a porta do quarto de hotel atrás deles, os sentimentos dentro dela eram bem diferentes. Marta gritava, a voz trêmula, os punhos cerrados.
— Você enlouqueceu? Eu? Sua noiva? Ontem mesmo jantei restos do lixo!
Natan a encarou com cansaço, mas sem perder a calma. Ao fundo, as luzes da cidade piscavam como faróis distantes.
— Apenas uma noite. Só isso. Finja ser minha noiva. É pelos meus pais. Eu pago. E não, não é por pena. É porque eu preciso de você.
Não de uma boneca. Não de um sorriso falso e olhos vazios. De alguém que saiba o que é sobreviver.
Ele a viu pela primeira vez da janela do carro. Marta estava sentada ao lado de uma entrada de metrô, com um violão gasto no colo e um pedaço de papelão à frente: “Não peço esmola. Peço uma chance.”
A maioria das pessoas apenas passava. Natan não. Parou. Saiu. E perguntou seu nome.
— E você, o que quer de mim?
— Alguém que não finja. Ou, se tiver que fingir, que saiba o que é a realidade.
Por trás do nome Marta havia uma história. Orfanatos, noites geladas nas ruas, livros roubados, um violão como âncora para não afundar de vez. Um mundo que muitos só conhecem pelos filmes.
E agora, ali estava ela, sentada à mesa de um restaurante sofisticado. Os pais de Natan diante dela. O pai, contido, elegante. A mãe — a personificação da graça e da inteligência — a observava com atenção aguda.
— Como se conheceram?
— Numa livraria — respondeu Marta, mantendo a compostura. — Deixei cair um livro de Schopenhauer. Ele pegou. Rimos juntos.
A mãe sorriu, levemente surpresa.
— Schopenhauer? Lê filosofia?
— No orfanato, a bibliotecária nos deixava levar qualquer livro, contanto que prometêssemos devolver.
O silêncio caiu. A mulher pousou a taça devagar sobre a mesa.
— Orfanato?
E então, Marta não conseguiu mais sustentar a farsa. Levantou-se. Respirou fundo. E disse a verdade, sem desviar o olhar.
— Eu menti. Não sou quem disse ser. Vivi nas ruas. Estava suja, faminta, e esta noite foi a primeira vez que senti que talvez… eu fosse humana.
A mãe não disse nada. Apenas se levantou… e a abraçou com força.
— Eu também comecei do nada — sussurrou. — E sou grata por você ter tido coragem de contar.
O pai, por outro lado, manteve-se frio e distante.
— Loucura. Apresentar alguém assim à família? Se fizer essa escolha, Natan, não conte com a fortuna.
Natan apenas assentiu. Mais tarde, em casa, encontrou um envelope do pai — uma carta de renúncia. Sem hesitar, jogou-a no fogo da lareira. O papel virou cinza lentamente, enquanto ele murmurava:
— O dinheiro vai e vem. Mas se você perde quem é, não lhe resta mais nada.
Marta não voltou para as ruas. Ficou no apartamento de Natan. Estudava, limpava, cozinhava.
Às vezes, pegava o violão e tocava uma melodia. Não mais por necessidade — mas porque algo dentro dela estava voltando à vida.
Uma manhã, sentada no chão frio do banheiro, segurava um teste de gravidez. Duas linhas. Duas pequenas linhas que mudavam tudo.
— Não é possível — sussurrou. — Nem somos um casal…
Quando contou a Natan, ele ficou em silêncio por longos segundos. Depois a envolveu em um abraço.
— Não sei o que é isso entre nós. Mas sei que é real.
O tempo passou, e os desafios chegaram. Disputas judiciais por terras que o pai queria recuperar.
Fofoqueiros chamando-a de “a mendiga do bilionário”. Medo no parto. Mas então, nasceu a filha deles. E com ela, uma nova existência.
Marta não se tornou apenas mãe. Tornou-se escritora, palestrante, símbolo de esperança. Escreveu um livro. Subiu em palcos. E sempre dizia:
— Não pedi caridade. Pedi uma chance. E houve alguém que viu em mim um ser humano.
Dez anos depois, voltaram ao lugar onde tudo começou. O restaurante. Marta segurou a mão da filha, de cachos dourados, e disse baixinho:
— Está vendo, querida? Foi aqui que seu pai sorriu de verdade pela primeira vez. Aqui deixamos de ser encenação e viramos família.
Natan estava ao lado. Segurava a mão de Marta. E em seus olhos, só havia serenidade.
Ele não se casou com uma princesa. Escolheu uma rainha. Que um dia sentou-se na calçada, pedindo não dinheiro, mas esperança.
E recebeu.