Após perder o marido, Eva retornou ao lugar de sua infância, a fazenda isolada nos arredores de Senteröd.
Tinha cinquenta anos, foi exímia atiradora, e seus movimentos ainda eram disciplinados, seu corpo moldado pela guerra, mas seu coração agora ansiava por paz.
Criou dois filhos sozinha, e a terra, que sempre foi teimosa e resistente, lhe oferecia algum consolo. Ela pensava que, finalmente, as batalhas estavam para trás.
Mas o silêncio pode enganar.
Em uma manhã quente de verão, o primeiro motor apareceu. Inicialmente, o som distante e baixo, depois foi ficando mais alto, até ressoar no limite da propriedade.
O motociclista usava um colete de couro, com um emblema: um lobo feroz e o nome: «Lobos de Ferro.»
Os olhares de Eva e do homem se cruzaram, e enquanto ele desaparecia na poeira, algo dentro dela se despertou – um instinto enterrado, que nunca morre verdadeiramente.
Naquela tarde, Lilla, a filha adolescente de Eva, entrou correndo no galpão.
Ela disse que motociclistas estavam fazendo perguntas na fonte. Queriam saber sobre a terra. A tensão em sua voz confirmou o pressentimento de Eva: algo estava por vir.
Na cidade, a situação também não era melhor. As pessoas sussurravam. Os Lobos de Ferro estavam se expandindo para o norte. Quem se opusesse, veria sua propriedade em chamas.
O líder da gangue era conhecido como Cobra – um rosto marcado por cicatrizes e um olhar gélido. Na semana passada, incendiaram a fazenda dos Tamás, porque eles não haviam pago.
À noite, Eva sentou na varanda, limpando sua velha espingarda.
Um dia, ela a usou para caçar lobos, mas agora estava se preparando para algo bem diferente. Seus movimentos eram automáticos, precisos. As lembranças de guerra fluíam de seus dedos.
E então, eles chegaram.
Antes do anoitecer, quatro motos pararam na entrada. Um deles se destacou dos outros: alto, com uma cicatriz longa no lado esquerdo do rosto, e na jaqueta, o nome: «Cobra.»
Ele falou com desprezo: sobre proteção, dinheiro, ameaças. Eva respondeu com frieza: que se retirassem.
O aviso tinha validade de uma semana.
Naquela mesma noite, Eva reuniu os vizinhos. O velho amigo caçador Tom, a senhora Maria, que escondia armas, e muitos outros sobreviventes silenciosos.
No estábulo, eles se reuniram, onde Eva retirou seus antigos equipamentos, seus mapas de campo. Reforçaram cercas, estabeleceram postos de observação, e até as crianças foram envolvidas.
Lilla praticava com um bastão, Marci treinava o cachorro Max para identificar sinais.
O ataque chegou ao amanhecer.
Vinte motocicletas serpenteavam pela estrada, em formação militar. Eva estava no sótão, com a mira voltada para o campo. Um disparo, e a moto de Cobra pegou fogo. A armadilha se fechou.
O caos se instalou. Fogo, fumaça, gritos. Na fazenda, todos estavam em seus postos, defendendo o que era seu. Lilla afastou um invasor, Marci correu com munições. Até Max latia furiosamente para os inimigos.
Os Lobos de Ferro acabaram recuando. Metade das motos foi destruída, vários estavam feridos. Cobra olhou para trás com raiva. – Isso ainda não acabou – disse ele.
E Eva sabia que ele estava certo.
O próximo ataque não foi apenas um ataque – tornou-se uma guerra. Voltaram com trinta homens, mais armados e furiosos. Mas Senteröd não era mais o mesmo de antes.
Cada esquina estava reforçada, cada estábulo escondia um vigia, e até as crianças sabiam o que fazer.
Os aldeões se uniram como uma só comunidade. Moviam-se e reagiam juntos. Eva, quase como uma sombra, guiava-os no campo de batalha, com a precisão de um atirador de elite, coordenando a defesa.
Cobra, por fim, ficou sozinho no meio do campo, sua moto destruída, as pernas ensanguentadas. Eva se aproximou, com a espingarda apontada para seu peito.
– Acabou – ela disse baixinho.
O homem cuspiu, ameaçou, mas já não tinha poder. Foi capturado, desarmado, e os Lobos de Ferro se renderam. O fogo se apagou, a aldeia permaneceu de pé.
Senteröd estava salvo.
Esta não era mais apenas a história de uma mãe. Era a resistência de uma comunidade.
A história de uma mulher que trouxe de volta à terra o passado, a fé e a determinação, e não apenas cultivou a terra – mas a defendeu.
Os lobos vieram. Mas chegaram à terra dos leões.