– Mamãe, para onde você vai? – perguntou Anna, com preocupação, enquanto se aproximava da sala de estar com uma expressão animada.
Erika parou na porta, levantou os olhos e sorriu, mas seus olhos, embora cheios de afeto, escondiam um cansaço difícil de disfarçar.
Ela pausou por um instante para deixar sua bolsa de lado e, ajoelhando-se, olhou profundamente nos olhos da filha. Aquela fração de segundo parecia durar uma eternidade para ambas.
– Querida, preciso sair para procurar trabalho – disse suavemente, abraçando Anna para acalmá-la. – Mas não se preocupe, logo Zsóka e Pali vão chegar e vocês ficarão juntos.
O rosto de Anna se iluminou por um momento, ao imaginar seu amado gato ruivo, Rozi. Sempre fora apaixonada por aquele felino, e agora mal podia esperar para vê-lo novamente.
– Eles vão trazer o Rozi também? – perguntou com entusiasmo, os olhos brilhando de curiosidade.
Erika sorriu, mas com uma ponta de tristeza. Sabia que Rozi não gostava de sair de casa, preferia ficar em seu próprio território seguro.
– Acho que não vão trazer o Rozi – respondeu suavemente. – Mas, quando formos à casa da tia Zsóka, você poderá acariciá-lo de novo.
Anna ficou um pouco triste, mas assentiu com a cabeça e voltou para a sala para continuar brincando com o seu coelhinho de pelúcia. Erika deu-lhe um beijo rápido na testa e saiu.
No último instante, ainda olhou para trás, deixando um pedaço de seu coração com a pequena.
Erika saiu de casa, e o frio e nublado amanhecer parecia engolir a cidade. A metrópole, embora vibrante e cheia de possibilidades, começava a parecer cada vez mais estranha para ela.
Há dois meses, sonhava com uma vida melhor, que começaria assim que encontrasse um emprego. Mas logo percebeu que a realidade não seria tão simples quanto imaginara.
Com o diploma no bolso e uma ambição ardente, chegou a São Paulo, mas o mercado de trabalho não estava disposto a ser generoso. Depois de cada entrevista, surgia uma esperança que logo se desfazia.
Muitas pessoas diziam a ela «na próxima vez vai dar certo», mas Erika sabia que a próxima vez poderia nunca chegar.
Enquanto caminhava em direção ao ponto de ônibus, algo fora do comum chamou sua atenção. Um homem idoso estava segurando uma coluna de luz, visivelmente fraco e pálido, como se não estivesse se sentindo bem.
Erika parou e, por um momento, pensou: como poderia não ajudá-lo? Era impossível deixá-lo ali sozinho.
O idoso apresentava sinais claros de que precisava de ajuda, mas Erika não hesitou. Deixou seus pensamentos sobre o trabalho e sobre o atraso de lado, guiada apenas por sua intuição.
Com um movimento rápido, pegou o celular e ligou para a emergência, mantendo a mão do homem enquanto tentava tranquilizá-lo.
– Vai ficar tudo bem, só aguente mais um pouquinho – disse-lhe suavemente, tentando acalmá-lo. As pessoas ao redor, quase sem notar, continuaram suas caminhadas apressadas.
Mas Erika não o soltou, e ficou ali, ao seu lado, até que a ambulância chegasse.
Quando finalmente o levaram, Erika deu uma última olhada para a rua e, só então, percebeu quanto tempo havia se passado.
Seu ônibus já tinha partido, e a entrevista já estava mais de dez minutos atrasada. Seu coração batia acelerado enquanto se dirigia para o escritório da empresa.
Quando finalmente chegou ao prédio, completamente exausta e molhada, mas ainda com uma leve chama de esperança, foi até o balcão de recepção. A funcionária a olhou rapidamente e disse, com firmeza:
– As entrevistas já terminaram.
Erika se sentiu completamente desolada. Todo o seu esforço parecia em vão, e o desapontamento tomou conta de seu corpo. Já estava quase indo embora quando uma voz profunda a chamou:
– Espere um momento. Mandem ela para o meu escritório.
Erika parou, surpresa, e virou-se lentamente. Foi quando percebeu que o homem a quem tinha ajudado estava sentado na cadeira do chefe.
O homem idoso, agora elegantemente vestido, que ela havia ajudado minutos antes, era, na verdade, o diretor de uma grande empresa.
Molnár Endre, o CEO da empresa, sorriu enquanto Erika o observava, atônita.
– Você foi a jovem que me ajudou, quando todos os outros simplesmente passaram por mim – disse ele, olhando-a com um sorriso amável, mas firme.
– Sabe quantas pessoas passaram ao meu lado, mas você foi a única que parou. E agora… gostaria de oferecer a você a vaga que estamos buscando para preencher.
Erika não sabia o que dizer, as palavras ficaram presas em sua garganta. O dia inteiro parecia ter sido uma luta sem fim, mas de repente, tudo havia mudado. Molnár Endre acenou com a cabeça e continuou:
– Estou procurando pessoas que não olham apenas para seus próprios interesses. Pessoas que sabem assumir responsabilidade pelos outros. Você já me mostrou isso.
Os olhos de Erika se encheram de lágrimas enquanto ela respondeu:
– Sim… claro que aceito.
Molnár Endre sorriu e estendeu a mão.
– Bem-vinda à equipe, Erika.
O coração de Erika quase saltou de seu peito. Todo o dia, as decepções e as dificuldades, agora pareciam ter encontrado um propósito.
Uma pequena, mas sincera decisão de ajudar um estranho mudou sua vida para sempre. Isso não significava apenas um novo emprego, mas uma nova chance para ela e para Anna.
Naquela manhã, Erika ajudou um estranho – e esse gesto trouxe para ela o maior presente que poderia esperar.