— Você está totalmente fraca, mãe. Não gostaria de vir morar conosco? — perguntou András, tentando esconder a tensão em sua voz, enquanto se sentava ao lado dela.
— Não, filho, — respondeu Katalin, sem desviar o olhar da janela.
Seu olhar estava fixo além dela, como se estivesse tentando encontrar algo na neve que ela já havia perdido há muito tempo.
— Eu vivi com seu pai nesta casa. Vou ficar aqui.
A neve já havia coberto o caminho que levava ao jardim, como se a natureza tentasse isolá-la do mundo. O crepúsculo lentamente tomou conta do quarto, mas Katalin não se apressou em acender a luz.
A escuridão parecia oferecer uma proteção, facilitando os pensamentos e as memórias, que por vezes se tornavam quase insuportáveis. Três meses se passaram desde a morte de László.
Seu marido simplesmente parou de bater no peito numa manhã, quando saiu para alimentar as galinhas. Caiu ali, entre o celeiro e a macieira que ele mesmo havia plantado.
A foto do casamento deles estava sobre a cômoda, ela com o vestido branco, feito por suas próprias mãos, e László com um terno emprestado, mas tão feliz, como se estivesse vivendo o dia mais importante de sua vida.
Katalin passou os dedos pelo vidro da foto, como se ainda pudesse sentir o sorriso de László.
— Você foi bom demais para mim, Laci. Demais, — sussurrou, enquanto sentia as lágrimas prenderem em sua garganta.
Ela se lembrava de tudo. De agosto de 1981, quando Zoltán foi para Budapeste prestar vestibular.
Prometera que voltaria e escreveria. As cartas começaram a chegar com menos frequência e, por fim, desapareceram completamente.
A jovem ingênua ainda o esperava, amava-o de um jeito que quase rasgava seu coração. Quando descobriu que estava grávida, o mundo parecia desabar.
Foi então que László apareceu, como um salvador. Um homem calmo e trabalhador, que a amava desde os tempos do ensino fundamental. Ele sugeriu o casamento, sem saber que um filho já crescia dentro dela.
Ela aceitou, sentindo que seria o melhor — para o filho, para ela, para todos.
— Filho, você é teimoso como seu pai, — disse László a András, de cinco anos, enquanto acariciava suavemente a cabeça desarrumada do garoto.
E Katalin sempre sentia que algo apertava seu peito.
Porque seu filho parecia tanto com Zoltán — com os mesmos olhos amendoados, com o mesmo pequeno vinco no queixo.
Quando Maria nasceu, a história se repetiu. Zoltán apareceu novamente por uma noite, quando voltou à vila para enterrar a mãe.
Uma noite cheia de desespero e de amores antigos. E novamente — gravidez, novamente — mentira.
— Nossa filha é totalmente parecida com você, Kata, — László se alegrava, sem perceber que a menina fazia o mesmo gesto com o nariz que alguém de quem ele nada sabia.
Os anos passaram. As crianças cresceram, sem perceber que sangue diferente corria em suas veias.
László construiu a casa, plantou as macieiras, e amava sua família de uma maneira que poucos seriam capazes — silenciosamente, com confiança, sem palavras vazias.
E Katalin… ela carregava seu segredo como uma cruz, algo que ficava cada vez mais pesado a cada dia.
Houve uma noite em que quase se entregou. As crianças já haviam crescido, saído de casa.
András se formou engenheiro, Maria professora. Uma noite, estavam os três deitados na cama com László, ele acariciando os cabelos grisalhos da esposa.
— Laci, tem algo que preciso te contar… — começou Katalin, mas László já estava profundamente adormecido, respirando de forma calma e regular.
E naquele momento, ela percebeu que não poderia destruir essa paz. Nunca.
O cemitério estava submerso pela neve. Katalin caminhava lentamente entre as tumbas, apoiada em um bastão. Ela o encontrou. Sentou-se ao lado dele. Colocou a palma da mão sobre a fria pedra.
— Sabe, Laci, — sua voz tremia, — as crianças vieram aqui na semana passada. András trouxe os meninos. O mais novo é igual a você — tem as mesmas rugas ao redor dos olhos quando sorri.
Ela se calou. Ao longe, o som de corvos podia ser ouvido.
— Por toda a minha vida, pensei que algum dia te contaria a verdade. Que nossos filhos… — sua voz falhou.
— Mas agora sei: eles sempre foram seus filhos. Realmente. Você foi o pai deles, um pai como os verdadeiros pais nunca poderiam ser.
O vento soprou um punhado de neve em seu rosto. Ela não se limpou.
— E sabe o que mais, Laci? Eu não te amei como deveria no começo. Mas depois… depois eu te amei. Silenciosamente, imperceptivelmente, para mim mesma.
E esse amor foi verdadeiro — muito mais verdadeiro do que a paixão juvenil.
Ela se levantou, com dificuldade para se endireitar.
— Talvez existam segredos que é melhor levarmos conosco. Este é o meu. E ele ficará comigo até o fim.
Enquanto caminhava, Katalin olhou para trás. O cemitério desaparecia lentamente sob o manto de neve. Assim como seu passado, que agora era um fardo que só ela carregava, para sempre.