Decidi cuidar da minha mãe doente, quando meu marido, por vingança, vendeu meu carro – «só para você não fugir para o interior», disse ele. Naquele momento, percebi: tenho que escolher entre dois tipos de amor.
Meu nome é Kriszta, tenho 42 anos. Há pouco mais de um mês, eu ainda trabalhava como psicóloga reconhecida em Budapeste,
morava em um elegante apartamento no centro da cidade e tinha um marido com quem construímos uma vida juntos por quinze anos – ou pelo menos eu pensava que sim.
Agora, moro em Varga, na casa antiga e empoeirada onde cresci.
Todas as manhãs, faço chá e levo para minha mãe no jardim.
Da janela da cozinha, observo a luz suave da manhã de abril acariciar as hortênsias, como um parente distante que, com um pedido de desculpas silencioso, suaviza o passado.
Nunca imaginei que um dia voltaria para cá. Mas a vida tem um jeito peculiar de nos puxar de volta, quando já pensamos que cortamos o cordão umbilical.
– Trouxe o chá, mãe – digo enquanto saio para o jardim.
Minha mãe, com mais de setenta anos, está sentada em sua cadeira de vime desgastada, coberta com um cobertor, mesmo com o sol brilhando forte.
Ela é ao mesmo tempo frágil e digna, como uma escultura envelhecida que só se mantém unida pela luz e pelas lembranças.
– Não precisava vir, minha querida – diz ela suavemente, enquanto segura a xícara com as mãos trêmulas. – Sua vida estava na cidade.
Sorrio e ajeito o cobertor sobre seus joelhos. Nos últimos dias, ela parece ter emagrecido ainda mais, como se a doença roubasse pedaços dela a cada noite.
O Parkinson é um ladrão lento – não rouba de uma vez, mas vai se infiltrando, como uma torneira que pinga, até que a pessoa desaparece sob sua própria falta de forças.
Os médicos disseram que ela teria um ou dois anos de vida. Depois de uma vida inteira de trabalho – primeiro na cooperativa agrícola e depois como faxineira na escola do vilarejo – ela não merecia isso.
Não merecia ser entregue a mãos desconhecidas.
– Este também é o meu lar – digo suavemente, embora saiba que há mais desejo do que verdade nas palavras. O apartamento em Budapeste também foi meu lar. Ao lado do Dani. Pelo menos, eu pensava que fosse.
Lembro das conversas que começaram depois do diagnóstico de minha mãe. Dani sempre queria uma solução prática: uma solução que se pudesse medir em termos de dinheiro.
– Vamos arrumar alguém para ficar com ela. Ou colocamos em uma casa de repouso boa.
Você não pode abandonar sua carreira, não pode voltar para o interior, brincar de menina do campo – disse ele, em um tom que tentava soar lógico.
Mas eu sabia que minha mãe não suportaria a ruptura brusca. O jardim, as galinhas, os vizinhos que param na cerca para conversar – isso tudo ainda tem sentido para ela. É a realidade que ela ainda compreende.
Quando avisei Dani que tiraria uma licença do consultório e atenderia meus pacientes online, ele apenas deu de ombros.
– Isso é uma loucura – disse ele. – Você jogaria fora toda uma década de trabalho!
Mas quando viu que eu estava decidida, ele endureceu.
– Se você for, tudo terá acabado entre nós. Não vou ficar indo e voltando entre Budapeste e esse buraco perdido.
Talvez ainda houvesse uma chance de salvar alguma coisa, se ele ao menos tivesse vindo aqui. Se tivesse visto como minha mãe vive.
Ou como o som das galinhas ao amanhecer ainda ressoa pela casa, ou como a vizinha Erzséke entra com um pote de geleia.
Mas Dani estava sempre ocupado. Trabalho demais. Reuniões importantes. Alergia ao pólen.
No dia em que eu iria embora, ele saiu de casa logo pela manhã. Quando cheguei à garagem, meu carro já não estava lá. O telefone tocou quando estava esperando o táxi.
– Vendi – disse ele friamente. – Assim você não pode simplesmente ir para o interior quando quiser.
Naquele momento, tudo ficou claro.
Não era sobre mim. Não era sobre minha mãe. Era sobre o fato de que Dani não conseguia suportar não ser o único a decidir.
Aqueles quinze anos juntos desabaram com uma única frase – como uma casa de cartas mal construída.
E agora estou aqui. No limite da aldeia. Em uma casa velha, onde o som das paredes é familiar, e o passado sussurra como uma presença viva sob as tábuas do chão.
Todas as manhãs, levo chá para minha mãe. E, ao fazer isso, redescubro o que significa «lar». Não é o endereço, não são os móveis. É alguém por quem você voltaria, mesmo que ninguém entendesse por quê.