Cheguei em casa e encontrei a porta do banheiro destruída e o que aconteceu a seguir destruiu a minha vida!

ENTRETENIMENTO

Eu só desapareci por dois dias. Apenas quarenta e oito horas. Uma viagem de negócios rápida para o interior – nada de mais, apenas uma pequena fuga da loucura cotidiana.

Deixei em casa o meu marido, András, e nossa filha de sete anos, Lili. Antes de sair, preparei tudo com muito cuidado: cozinhei, passei as roupas, fiz uma lista longa de tarefas para o dia.

Eu sentia que tinha o controle de cada detalhe. O que poderia acontecer em tão pouco tempo?

Cheguei em casa no domingo à noite, cansada, sonolenta, depois de um congresso exaustivo, e tive que esquentar meu café três vezes.

Mal podia esperar para estar em casa, entrar naquele ambiente familiar e aconchegante, abraçar a Lili, me aconchegar no sofá com András e, pelo menos por uma noite, esquecer tudo o que estava acontecendo ao meu redor.

Mas assim que atravessei a porta… algo não estava certo.

O ar estava pesado, carregado de tensão. Não literalmente, mas parecia que até o silêncio tinha se congelado, como se uma parede pesada tivesse sido erguida entre nós. Estava quieto demais.

Uma mãe geralmente é recebida por um grito de «Mamãe!» e um abraço animado, não por um silêncio tão denso, que falava mais que qualquer palavra.

Não ouvi a Lili, e András também não veio me receber com um copo de vinho, como costumava fazer.

Comecei a caminhar pelo corredor e então vi.

A porta do banheiro… parecia que alguém tinha atacado com um machado. O batente estava completamente destruído, pedaços de madeira espalhados pelo chão, e cacos por toda parte.

Era como se eu tivesse caído no meio de um filme de terror. Na luz, uma sombra vermelha ainda permanecia no chão – talvez apenas tinta de cabelo, talvez algo muito pior.

– O que diabos você fez aqui? – perguntei para mim mesma, minha voz soando monótona e sem vida.

Foi na sala que os encontrei.

András estava sentado no sofá, pálido como uma folha, olhando fixamente para a TV desligada. Uma mão repousava em seu joelho, a outra pendia relaxada ao lado, mas seus músculos estavam tensos.

Lili estava no chão, brincando com uma boneca, mas nem olhou para mim. Sua testa estava baixa, os dedos apertando com força o brinquedo. Parecia que ela tinha perdido a alma.

– O que aconteceu? – perguntei, minha voz rouca e cheia de raiva. – O que é isso na porta?

András apenas deu de ombros. Sério. Deu de ombros.

– Bem… acidente – murmurou, mas nem por um momento olhou para mim.

– Acidente? – eu repeti, incrédula. – Isso não é um acidente, András! Alguém destruiu a porta do banheiro! O que aconteceu?

Lili se encolheu com o tom da minha voz, se escondendo ainda mais atrás da boneca.

András murmurou algo sobre «mal-entendido», sobre «detalhes desnecessários». Minha mente estava completamente confusa.

Sentei na cozinha, minhas mãos tremendo pela exaustão e pela raiva. As perguntas estavam bombardeando minha mente, mas não havia respostas. Tentava procurar alguma lógica.

Talvez Lili tenha se trancado no banheiro. András entrou em pânico, não conseguiu abrir a porta e então a destruiu para resgatá-la. Sim, certamente foi isso. Ele é o pai dela. Ele se assustou. Fez isso por eles.

Afastei esses pensamentos. Amanhã conversamos. Agora preciso dormir.

Antes de subir para o meu quarto, decidi levar o lixo para fora. Sempre faço isso: se András está em casa, o lixo transborda três vezes, mas nunca é levado para fora.

Quando saí pela porta, meu vizinho, Dávid, estava na entrada. Um homem simpático e prestativo.

– Oi, Kata! – ele me cumprimentou. – Que bom que voltou… e… bem… sinto muito pelo que aconteceu.

Eu parei. O lixo quase caiu da minha mão.

– Sente muito? Por quê?

– Bem, a porta… o incidente todo – ele gaguejou. – Sério, eu não sabia quem estava lá dentro quando eu quebrei a porta…

– ESPERA! – eu interrompi. – Você… quebrou a porta?

Dávid congelou. Seu rosto mudou, e ficou claro que ele se arrependeu de ter falado.

– A Lili veio correndo até a nossa casa no sábado. Ela estava completamente fora de si.

Disse que o papai estava agindo de forma estranha… que algo não estava certo com ele… que ele se trancou no banheiro e estava ouvindo sons.

O mundo, de repente, ficou silencioso. Só o som do meu coração batendo era audível.

– Eu achei que ele estivesse mal – ele continuou. – Achei que ele tinha desmaiado… não pensei. Apenas peguei um machado do porão e fui correndo. Bati na porta, gritei, ninguém respondeu. Então…

– Você destruiu a porta – eu terminei.

Dávid assentiu. – Sim. Imediatamente. E… lá havia alguém. Com ele. Uma mulher. Ambos gritaram comigo para eu sair.

Minha mão agarrou a lixeira. Minhas pernas tremiam. A realidade que eu conhecia se desfez em pedaços.

– Uma… mulher? – perguntei suavemente.

Dávid apenas assentiu, com um olhar triste. – Desculpe. Achei que você soubesse. Não queria ser eu a te contar…

Fiquei ali, ao lado da lixeira, na porta de casa, enquanto meu vizinho, Dávid, dizia as palavras que destruíram tudo:

– Ele não estava sozinho. Havia uma mulher com ele. No banheiro. Trancada.

O mundo começou a girar. O ar ficou tão pesado que parecia doer.

– O que… o que aconteceu? – perguntei finalmente, rouca.

Dávid suspirou, e então respondeu suavemente: – Nada. Lili estava com muito medo para se aproximar.

Quando eu quebrei a porta, eu a levei para fora. Disse a ela para ficar na nossa casa até tudo se acalmar. Sua filha estava chorando. Eu a protegi. Não sabia o que dizer a ela.

– Obrigada, Dávid – sussurrei. – Obrigada por estar lá para ela.

Ele acenou com a cabeça, sorrindo timidamente. – Se precisar de alguma coisa, me avise.

Voltei para casa, mas ela já não era mais «lar». Cada passo pelo corredor se tornava dolorosamente pesado. O chão rangia sob meus pés, ou talvez fosse o som do meu coração se despedaçando.

András estava sentado no sofá. Como se o tempo tivesse congelado para ele. O olhar assustado de minha filha, a mão do vizinho no machado, tudo isso ainda estava ali. Só ele permaneceu indiferente.

Eu parei na frente dele. Minha mão estava cerrada em um punho.

– Quem era ela? – perguntei baixinho.

Ele não olhou para mim.

– Do que você está falando?

Isso foi a gota d’água.

– Não minta para mim, András! – gritei. – Dávid me contou tudo! Eu sei de tudo! Você estava no banheiro com uma mulher! Nossa filha achou que você tinha morrido e correu até o vizinho em busca de ajuda!

Agora ele olhou para mim. Lentamente, como se se mover fosse doloroso. Seus olhos estavam vermelhos, seu rosto pálido.

– Ela… era só uma amiga.

– Amiga?! – eu ri amargamente. – Você trouxe outra mulher para nossa casa! Na frente da nossa filha! E agora está sentado aqui, como se nada tivesse acontecido?

– Não foi bem assim… – ele tentou se justificar.

– ENTÃO COMO FOI?! – eu gritei.

Silêncio. O silêncio foi a resposta, mais forte que qualquer palavra.

Então parei. Não disse mais nada. Apenas olhei para ele, esse homem com quem passei dez anos de casamento. Que se tornou pai da minha filha.

E agora ele estava ali, como se tudo tivesse desmoronado ao seu redor, esperando que eu fosse reconstruir tudo.

Mas eu não queria reconstruir nada. Só subi para o meu quarto.

Lili estava dormindo tranquilamente. Seu rosto ainda mostrava os vestígios do choro. Eu acariciei sua testa para que não acordasse.

Naquela noite, tomei uma decisão: no dia seguinte, iríamos embora. Não haveria mais chances, nem mais explicações. Isso tinha acabado.

Na manhã seguinte, pegamos o primeiro ônibus. Nossa casa se tornou uma prisão. Mas minha filha era a única coisa que eu queria salvar.

András tentou falar. Chorou. Gritou. Suplicou. Mas suas palavras ecoaram vazias. Ele havia queimado as pontes.

Lili não fez muitas perguntas. Apenas disse:

– Mamãe, agora tudo vai ficar bem?

– Sim, querida – sussurrei. – Agora tudo vai ficar bem.

Nossa vida seguiu em frente. Em uma nova casa, com novas esperanças. Mesmo que a sombra do passado às vezes ainda nos alcançasse, sabíamos que podíamos viver sem as portas.

Escolhemos uma janela, para sempre ver a luz do sol rompendo as nuvens.

Agora, não nos fechamos mais. Porque nosso lar, nossa segurança, nosso amor e nossa paz estão todos dentro de nós.

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