O vento gelado atravessava impiedosamente o casaco fino de Gergő, mas ele nem se mexia.
Estava diante da cova recém-coberta, imóvel, como se o próprio frio tivesse se alojado em seu peito. À sua frente, uma sepultura: a de Katalin.
As flores deixadas pela manhã já estavam curvadas sob o peso do inverno, suas cores esmaecidas, como se a vida também tivesse escapado delas.
Os dedos de Gergő deslizaram pela superfície fria do granito. Como se o toque pudesse trazer de volta quem já há muito tinha partido. Um suspiro suave escapou de seus lábios.
– Kata… – murmurou, como se o nome pudesse ecoar a lembrança dela.
Foi difícil engolir, mas as palavras irromperam. – Eu vou encontrar quem fez isso com você. Juro por tudo.
Caiu de joelhos, sem forças. As lágrimas escorreram silenciosas pelo rosto, como pequenos espelhos onde se refletia tudo o que havia perdido.
Nesse momento, o som de galhos congelados estalando se fez ouvir atrás dele. Alguém se aproximava. Gergő se virou. Um homem alto estava ali, vestindo um sobretudo escuro, o olhar cortante.
– Gergely András? – perguntou com voz fria e oficial.
– Sim… quem é você?
O homem mostrou uma credencial.
– Investigador. Balla Zoltán.
O rosto de Gergő se iluminou por um instante, a esperança brilhou em seus olhos.
– Vocês descobriram algo? Quem foi…?
O homem deu um passo à frente. – O senhor é o principal suspeito pela morte de Katona Katalin.
O ar escapou dos pulmões de Gergő. Ele recuou um passo, o rosto tenso.
– O quê? Isso é um engano! Eu nunca…
Antes que pudesse terminar, dois policiais se aproximaram. O clique metálico das algemas tornou o impensável real.
– Mas eu a amava! – gritou desesperado.
A voz do investigador era cortante.
– Amava? Então por que todas as provas apontam para o senhor?
– Que provas?
Sem resposta, foi levado. O silêncio do cemitério foi rompido apenas pelo sopro do vento e o olhar mudo das árvores nuas.
A luz fria da sala de interrogatório refletia cruelmente na mesa de aço. Gergő estava algemado, imóvel como uma sombra.
– Comece do início – disse Balla, jogando os arquivos sobre a mesa.
– Já contei tudo – rosnou Gergő. – Estávamos trabalhando no escritório quando a Kata me ligou. Estava apavorada. Disse que alguém a seguia.
– E o senhor?
– Pedi imediatamente ao nosso técnico de informática que tentasse rastrear a ligação.
– Isso é ilegal.
– Mesmo assim. Eu era o noivo dela. Tinha que tentar salvá-la.
– E a encontrou?
– Só a bolsa dela. Com manchas de sangue. Ela já não estava mais lá.
Balla tirou uma foto. Mostrava a mão de Gergő coberta de sangue.
– Como explica isso?
– Já disse! Peguei a bolsa! Queria ajudá-la!
O investigador não respondeu. Lançou outra frase como uma lâmina.
– Temos testemunhas. O padrasto dela, Fekete Imre. Afirma que o senhor era ciumento, e brigavam muito.
– Mentira! Foi ele! Ele está tentando me incriminar!
– Talvez tenha visto Katalin com outro?
– Isso é absurdo!
O debate cessou. Balla levantou-se.
– Pense bem.
Naquela mesma noite, Gergő já estava atrás das grades. As paredes eram grossas, o ar pesado, e a esperança parecia ter se dissipado.
Na cela, havia outros dois com ele. Um era carrancudo, musculoso; o outro, esguio, com olhos atentos.
– Aqui, nos apresentamos – disse o segundo. – Sou Miki. Ele é o Sas.
– Gergő – respondeu.
– Carne fresca – riu Sas, acertando-o com o cotovelo. – Aprende logo: aqui não existe piedade.
Gergő cerrou os dentes, mas não recuou.
Os dias passaram. Despertares dolorosos, silêncios sufocantes, e ruídos ainda mais pesados. No refeitório, um estranho sentou-se ao lado dele.
– Sou Viktor – disse. – Vejo que ainda está firme. Mas lá fora tem gente que não quer que isso dure muito.
– Fekete Imre – murmurou Gergő.
– Aham. Estão comentando. Ele está pagando gente aqui dentro para acabar com você.
– Mas por quê?
– Porque você sabe de algo. Ou ameaça alguém.
Naquela noite, esfaquearam-no pelas costas. Não morreu – mas chegou perto. Quando abriu os olhos, estava em um quarto de hospital, à luz fraca. Um médico o observava.
– Tão frágil? Nada disso. É teimoso como o diabo.
– O que aconteceu?
– Tentaram apagá-lo. Mas o senhor não é do tipo que desaparece fácil.
Alguns dias depois, uma mulher o visitou. Era enfermeira, de meia-idade, olhos cansados, mas voz firme.
– Tem uma moça no hospital psiquiátrico. Jovem. Bonita. O nome dela é Polgár Katalin. Só recebe visitas de um homem: Fekete Imre.
Gergő quase não acreditou no que ouvia.
– Impossível… eu a enterrei!
– Aqui… nada é impossível. Com dinheiro suficiente.
– Quero vê-la.
– Não posso levá-lo, mas meu filho, Bence… pode guiá-lo até a cerca dos fundos.
No dia seguinte, do outro lado da cerca, estava Kata. Distante, com o olhar vazio, os movimentos lentos, alheios. Mas viva.
Gergő ficou ali, como se atravessasse o tempo e a realidade com os olhos.
No outro dia, Tamás abriu a porta quando Gergő apareceu. O rosto do amigo se contraiu.
– Gergő?! Achei que… você jamais sairia.
– A Kata está viva. E posso provar.
Colocou um gravador sobre a mesa. A voz de Fekete Imre dizia: “Acabamos com a garota. A herança era minha por direito.”
O rosto de Tamás endureceu.
– Orlai Róbert. Ele ainda acredita na justiça.
O investigador escutou a gravação e assentiu em silêncio.
Ao amanhecer, a polícia invadiu a mansão. O rosto de Imre manteve-se arrogante, mesmo quando foi algemado.
– Mentiras! – gritou.
– O tribunal decidirá – veio a resposta.
Gergő voltou para buscar Kata. Zita o esperava. Os papéis estavam prontos. Kata agora estava sob sua tutela legal.
Estava no corredor quando a viu.
– Gergő…? Você está vivo?
– Estou aqui. E agora não vou mais embora.
Os olhos dela estavam turvos,
mas o abraço ganhou força, devagar.
– Disseram que você tinha morrido.
– Disseram o mesmo sobre você. Mas agora, vivemos de novo.
Alguns meses depois, começaram uma nova vida numa pequena aldeia. Plantaram mudas no jardim, e Kata passou a recordar cada vez mais.
– Não me lembro de tudo… mas sinto mais a cada dia. E te amo mais também.
– Isso basta pra mim. Agora, não precisamos mais nos esconder.
Enquanto isso, na cidade, saiu a sentença. Fekete Imre foi condenado. Balla foi afastado e responsabilizado.
Nos jornais, a história de Gergő e Kata estava nas capas: o homem que todos deram como perdido – e a mulher que voltou da morte.
Um ano depois, estavam sentados numa varanda de café. No copo de Kata, suco de laranja. No de Gergő, café.
– Escrevemos um livro? – perguntou Kata.
– Talvez seja a hora. Para que outros também saibam o que é acreditar em alguém, mesmo quando ninguém mais acredita.
De mãos dadas, permaneceram em silêncio. Sabiam que o que tinham não era apenas uma segunda chance. Era a própria vida – recomeçada.