– Laci! Filho, já está na hora de partir! – ecoou a voz da mãe vindo da cozinha quente, como se o vento trouxesse os ecos do passado.
– Já vou, mãe, só estou conferindo minha mala mais uma vez! – respondeu Laci, enquanto delicadamente limpava a poeira do fecho prateado do cinto.
Cada item estava meticulosamente colocado: o crachá militar, uma foto amarelada dos pais e, claro… o pacote de cartas que Ági lhe enviara – cada palavra uma fatia de memória, cada frase uma oração silenciosa.
Laci mal completara 20 anos. O peso da responsabilidade da vida já tocava seus ombros, mas em seus olhos ainda ardia a chama da esperança juvenil.
Com Ági, ele havia tecido sonhos comuns por dois anos. Ela prometera esperar por ele até o dia em que ele finalmente tirasse o uniforme.
– Escreverei para você todos os dias – sussurrou Ági na manhã do adeus, na estação de trem, onde a mão de Laci tremia enquanto o monstro de ferro apitava anunciando o fim daquele momento.
– Eu também – apertou a mão dela com força, como se quisesse aprisionar a eternidade entre seus dedos.
O trem partiu. Ági acenava, e Laci, grudado na janela, tentava guardar na memória cada movimento dela: o cabelo balançando ao vento, os lábios formando silenciosamente as palavras: «Eu te amo.»
No exército, os dias passavam lentamente, como a névoa que cobre o Rio da Duna nas manhãs frias. Todas as noites, ele escrevia.
Suas cartas pareciam simples – sobre a guarda, brincadeiras no quartel, o almoço –, mas em cada linha estava escondida uma palavra não dita: Sinto sua falta.
Ági respondia, a princípio. Cartas perfumadas, cheias de corações e amor. Depois, as respostas foram diminuindo. Até que… pararam.
– Talvez ela tenha ficado doente – murmurou Laci.
– Ou viajou para as montanhas, onde até o carteiro se perde – tentou se consolar.
Mas eram só enganações. Os outros meninos deram de ombros.
– Esquece, amigo. Um ano é uma eternidade para uma garota.
– Ági não é assim! – Laci respondeu, irritado. – Ela prometeu.
O dia da desmobilização chegou. O momento de voltar para casa. Laci arrumou tudo com cuidado, ainda guardando uma leve esperança no fundo do coração.
Ele colocou no bolso do casaco a última carta de Ági – um papel amarelado e desbotado, mas para ele era a prova atemporal de que tudo aquilo havia sido real.
A estação estava lotada. Mães, irmãos, garotas com buquês de flores. Laci só procurava um rosto. Só um.
Não a encontrou.
A multidão começou a se dispersar. O pátio ficou silencioso. Laci ficou ali – sozinho, segurando o casaco como se fosse a última tábua de salvação.
– Talvez ela tenha se atrasado… – sussurrou.
Foi então que a viu. No pátio oposto. Uma mulher estava ali – com um bebê adormecido nos braços.
O olhar dela se prendeu no dele, sem palavras, sem gestos. Apenas um olhar. O rosto era familiar. O coração reconheceu primeiro, mais rápido que os olhos.
Ági.
Laci ficou imóvel. O mundo silenciou.
Ági abaixou a cabeça, virou-se e começou a caminhar para fora.
– Ági! Espera! – gritou Laci, e começou a caminhar atrás dela, como se suas pernas fossem feitas de chumbo.
Ela parou. Não olhou para trás. O bebê se mexeu nos braços dela, como se sentisse que algo importante estava acontecendo.
– Você… você está aqui – Laci sussurrou.
Ági lentamente se virou. Seus olhos se encontraram. Naquele olhar havia dor, vergonha, e algo tênue, escondido – talvez ainda amor?
– Você voltou – disse ela, baixinho.
– Eu pensei… que voltaríamos para casa juntos.
Ági olhou para o bebê. Ele se mexeu novamente.
– Esse… ele… – a voz de Laci se perdeu. – É meu?
Ela fechou os olhos. Depois de uma pausa, balançou a cabeça.
– Não. Ele é do meu marido.
Laci sentiu-se como se tivesse virado pedra. O silêncio tomou seu coração. Ele estava perdido, como uma bússola perdida numa tempestade.
– Mas… você disse que ia esperar.
– Eu esperei. Todos os dias. Mas suas cartas… simplesmente pararam. Eu pensei que você tivesse me esquecido. E então… alguém apareceu, alguém que me ouviu.
– Eu não parei de escrever! Eu escrevia todas as noites! Talvez você nunca tenha recebido…
Os olhos de Ági se encheram de lágrimas.
– Eu também não entendo. Só sei que, um dia, a esperança dentro de mim se apagou.
– E agora… você está feliz? – Laci perguntou, suavemente.
Ela ficou em silêncio por um longo tempo. Finalmente, respondeu:
– Não importa mais o que teria sido. O que importa agora é o que é.
O encontro deles chegou ao fim. Ági caminhou lentamente para longe. Laci ficou ali, observando-a por muito tempo. Colocou a mão no bolso. Tirou aquela única carta.
«Eu te amo. Vou esperar por você.»
Ele riu. Uma risada seca, frágil. Como alguém que já não chora, porque a dor foi profunda demais.
Dias depois, ele já estava de volta em casa. O uniforme foi guardado, como se estivesse enterrando uma lembrança de uma vida que passou.
A cidade estava igual – e ainda assim diferente. O sussurro das árvores já não trazia mais paz, os bancos não chamavam mais seu nome.
Mas ele caminhava todos os dias. Às vezes, ia para a estação de trem. Como se ainda acreditasse que, algum dia, um sorriso familiar, uma mão conhecida, apareceria.
Uma tarde, enquanto se agachava para pegar uma pedra no riacho, alguém o chamou.
– Você é o Laci?
Ele se virou. Uma mulher idosa estava diante dele. Frágil, mas com um olhar claro.
– Sim. E a senhora…?
– Sou a mãe da Ági.
O mundo de Laci parou por um momento.
– Eu sei o que aconteceu entre vocês. Todos sabiam. Mas você não sabe tudo, meu filho.
– O que eu não sei?
A mulher se sentou devagar ao lado dele.
– As cartas… Ági nunca as recebeu. O homem que hoje é o marido dela… era o carteiro na época.
E ele era invejoso. Sabia que você era o coração de Ági. Que ele não tinha chance. Então, roubou dela a esperança. Literalmente. Ele nunca entregou as cartas.
Laci permaneceu em silêncio. Sua alma queimava em cinzas.
– Ági nunca soube disso – continuou a mulher. – Agora, o marido dela está doente. Ági cuida dele, com toda a dedicação. Mas eu… não aguento mais carregar esse segredo.
– Não foi minha culpa – Laci sussurrou.
– Não, meu filho. Você nunca foi o culpado.
Naquela noite, Laci abriu uma velha caixa de madeira. Estava cheia de lembranças – um lenço, um cartão postal, uma palha de trigo.
E lá, no fundo, estava uma carta. Ele nunca a havia visto antes. A letra de Ági.
«Laci. Não sei onde você está, se ainda pensa em mim. Mas, se um dia você encontrar esta carta, saiba: eu sempre te amei. O que quer que tenha acontecido, tudo o que recebi de você ficará em mim para sempre.»
Laci fechou a carta. Lá fora, o silêncio reinava. O mundo dormia.
E, pela primeira vez, depois de muitos anos, ele descansou em paz.
Porque agora ele sabia: as coisas do coração, às vezes, permanecem silenciosas, inacabadas – mas ainda assim, eternas.