„Meu marido nos deixou surpreendemos ele lá”

ENTRETENIMENTO

Depois de semanas planejando cuidadosamente a véspera de Natal perfeita, meu marido,

Miguel, decidiu sair sozinho para a festa da firma — supostamente exclusiva para os colegas de trabalho — deixando a mim e às crianças em casa.

Mas quando o telefone de outra esposa revelou que, na verdade, os cônjuges também foram convidados, percebi que estava na hora de fazer uma visita surpresa.

As luzes de Natal mal piscavam enquanto eu ajeitava, pela centésima vez, a estrela prateada no topo da árvore.

Cada pequeno detalhe precisava estar impecável — porque isso, para mim, era o papel de mãe e esposa. Um reflexo do meu carinho.

Dei alguns passos para trás para admirar meu trabalho, mas quase tropecei no trilho do trem que Miguel fez questão de montar no último fim de semana.

Foi um daqueles dias raros — momentos em que ele estava verdadeiramente presente com a família.

“Mamãe! Mamãe! Olha como eu giro!” — gritou Daisy, rodopiando com sua fantasia brilhante de princesa, os cachinhos loiros voando como faíscas douradas a cada volta.

Ela era pura magia, minha pequena. Os lantejoulas do vestido reluziam sob as luzes da árvore, como pequenos arco-íris dançantes nas paredes.

“Você está linda, meu amor! Parece até a Cinderela!” — disse, estendendo a mão para ajudá-la enquanto ela perdia o equilíbrio. “Talvez até mais bonita.”

“A Cinderela tem espada?” — perguntou ela, de olho no sabre de brinquedo do irmão.

“Arrr!” — Max correu pela sala com o sabre de plástico levantado, o tapa-olho no rosto já meio borrado após a soneca da tarde. “Vou roubar todos os presentes do barco do Papai Noel!”

Ri alto, agarrando-o no caminho e aspirando o cheirinho doce do seu shampoo infantil. “Devagar, Capitão Max! Não queremos derrubar a árvore antes do papai chegar.”

“Ele já tá vindo?” — perguntou Max, com o lábio inferior tremendo. Desde o café da manhã ele fazia a mesma pergunta a cada vinte minutos.

“Logo, meu bem. Logo, logo.” — respondi, tentando ignorar o nó no meu estômago.

Nos últimos meses, Miguel vinha chegando cada vez mais tarde, sempre com uma nova desculpa. Mas hoje seria diferente. Tinha que ser. Era véspera de Natal.

Foi então que a porta se abriu, deixando entrar uma lufada de ar gelado. Miguel entrou em casa.

Estava elegante na roupa de trabalho, mas seus olhos pareciam distantes. Ele via todos nós, mas não enxergava ninguém.

“Papaaaai!” — gritaram as crianças, correndo até ele como foguetes em miniatura.

“Oi, meus elfos!” — abraçou-os rapidamente e me deu um beijo no rosto ao passar por mim.

Seus lábios estavam frios, e o gesto, automático, sem emoção.

“Oi, querida, está tudo lindo! Preciso de uma camisa branca e meu terno preto, será que você consegue passá-los enquanto eu tomo um banho?”

Fiquei parada, confusa. O alarme do forno apitou ao fundo, soando como uma contagem regressiva para algo inevitável.

“Seu terno? Achei que só as crianças iam se arrumar hoje à noite!”

Ele soltou uma risadinha distraída e subiu as escadas. A porta do banheiro bateu, e logo ouvi o chuveiro. Daisy cantarolava “Bate o Sino” na sala.

Como uma boa esposa, abri a tábua de passar e passei a camisa com capricho, enquanto cantarolava suavemente “Noite Feliz”.

O alarme soou novamente — reguei o peru com o último caldo, escorregando com as meias no chão encerado. Tudo ia sair perfeito.

“Mãe, a gente pode abrir só um presente?” — perguntou Max, puxando minha manga, deixando marcas de bala açucarada no meu suéter de tricô especial.

“Ainda não, querido. Primeiro vem o jantar.” — acariciei seus fios bagunçados, decidindo que depois do Natal faríamos uma visita ao cabeleireiro.

Foi então que Miguel desceu as escadas — parecia saído de uma propaganda: cabelo impecável, envolto no perfume caro que sua mãe sempre lhe dava.

Ajeitou os botões de punho — os de platina que dei no último Natal — e pegou as chaves na tigela de cristal ao lado da porta.

“Estou indo para a festa da empresa. É só para colegas de trabalho, então volto tarde.” — disse rapidamente, como se não importasse.

Suas palavras cortaram o ar como gelo. Tudo ficou claro demais, barulhento demais, rápido demais. “O quê? Mas… hoje é véspera. O peru… as crianças…”

Ele apenas acenou com a mão, já na metade do caminho até a saída. “Não me esperem. Separa um pouco pra mim depois.”

“Pai, você prometeu que ia ler A Noite de Natal!” — a voz de Daisy tremia, e sua coroa de princesa caía de lado.

“Amanhã, meu anjinho. O papai tem que trabalhar.” — e, com isso, ele se foi. O som da porta se fechando selou aquele momento.

O lábio de Max voltou a tremer. “O papai tá bravo com a gente?”

“Claro que não, meu amor.” — puxei-o para perto, aspirando o cheirinho reconfortante da infância, tentando manter a calma. “O papai só está…”

Então meu celular tocou. Na tela, o nome: Melissa.

Atendi automaticamente, ainda atordoada.

“Oi, Lena! Já decidiu o que vai usar hoje? Não sei se vou com o vestido vermelho ou o verde…”

Meu corpo enrijeceu. A sala ficou desfocada enquanto as peças começavam a se encaixar. “Usar… hoje à noite?”

“Na festa da firma! Mas você deve estar linda como sempre. Estava pensando em colocar aquele salto que você elogiou no piquenique da empresa…”

“Na festa só para funcionários?” — perguntei, minha voz soando estranha até pra mim.

Silêncio desconfortável. “Ai, meu Deus… Lena… achei que… quer dizer, todos estão levando os cônjuges… Nossa. O Miguel não te contou?”

Desliguei. As luzes de Natal borraram-se com as lágrimas que se formavam. Mas não as deixei cair. Não naquela noite. Não na frente das crianças.

“Mamãe?” — perguntou Daisy, puxando novamente minha manga ao perceber minha expressão abatida. “Por que você tá brava? Sua cara tá vermelha igual quando o Max desenhou na parede.”

Forçadamente sorri, sentindo como se meu rosto fosse rachar. “Não tô brava, querida. Na verdade… acabei de decidir que vamos viver uma aventura!”

“Sério?” — os olhos de Max brilharam, a tristeza de antes se esvaindo num instante. “Igual piratas?”

“Exatamente como piratas.” — Corri para o quarto e, com mãos trêmulas, abri o cofre.

O toque gelado do metal foi como um alerta, mas eu não me importei. Hoje à noite, ninguém vai estragar o nosso Natal.

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