A última coisa que Mia tentou roubar de Brit. Por anos, meus pais permitiram que minha irmã mais nova, Mia, roubasse tudo da minha irmã mais velha, Brit. Não eram apenas objetos – ela lhe tirava sonhos, alegria e até o namorado.
Mas no dia em que Brit voltou para casa, grávida e cheia de esperança, Mia tentou levar o último vestígio de sua felicidade. Só que, dessa vez, a família não deixou.
Eu sou Nick, o filho do meio, preso entre duas irmãs. Brit, a primogênita. Mia, a caçula. E desde que me lembro, Mia sempre foi o sol no universo dos nossos pais. O “milagre” que os médicos disseram que não sobreviveria – mas sobreviveu.
E Brit? Brit apenas existia. Eu percebia o desequilíbrio, mesmo sem entender. Se Brit chegasse em casa com uma nota perfeita, mal recebia um elogio. Mas se Mia fosse escolhida como “jogadora da semana” no time de futebol, havia bolo e festa.
“Olha, mãe! Desenhei a nossa família!” Brit mostrou animada um retrato detalhado. Nossa mãe lançou um olhar rápido e murmurou um “Que lindo, querida” antes de voltar a organizar a agenda de treinos de Mia.
Brit amava desenhar. Mas quando pediu um kit profissional de arte, ouviu que era “muito caro”. Na semana seguinte, Mia decidiu que queria aprender a desenhar. Adivinha quem ganhou um material completo de primeira linha?
Uma vez, quando eu tinha dez anos, Brit me olhou com os olhos marejados e sussurrou: “Nick, eu sou invisível? Às vezes me encaro no espelho só para ter certeza de que eu existo.” Aquilo me atingiu como um soco. Não soube o que dizer.
Então fiz a única coisa que pude: abracei minha irmã enquanto ela chorava em silêncio contra o meu ombro. Com o tempo, a obsessão de Mia em ser “melhor” do que Brit ficou doentia. Ela roubou o garoto de quem Brit gostava – só porque podia.
Uma vez, cortou o cabelo dela enquanto dormia e riu no dia seguinte, como se fosse uma brincadeira inocente.“Nossa, Brit, é só cabelo”, disse nossa mãe, impaciente, ao ver minha irmã chorar. “Vai crescer de novo.”
Brit tentou argumentar, mas nosso pai interrompeu: “Pare de exagero. Sua irmã jamais faria algo para te machucar.” Brit engoliu as lágrimas. Engoliu por anos. Mas quando Mia roubou até seu namorado na faculdade, foi o bastante.
Ela cortou laços com todos e reconstruiu a própria vida, longe da sombra da nossa família. Encontrou o amor em Patrick – “Pit”, como o chamavam. Um homem que lutaria com um urso por ela, se fosse preciso.
Brit, finalmente, estava livre. Até que engravidou. De repente, nossos pais decidiram que era hora de “reunir a família”. Depois de anos ignorando Brit, queriam tê-la por perto. Ela hesitou, mas concordou em ir a um jantar de família.
“Talvez, só talvez, eles tenham mudado”, me disse. Eu queria acreditar nisso. Mas devia ter sabido melhor. Para Mia, a volta de Brit era só mais uma chance de espetar a faca – e torcê-la. O jantar começou em paz.
Brit estava reservada, Pit observava tudo como um lobo pronto para atacar, e nossos pais exageravam na falsa afeição. “Estamos tão felizes em te ver de novo, querida”, repetia nossa mãe, um sorriso grande demais para ser sincero.
Mia permaneceu em silêncio, brincando com a haste da taça de vinho. Esperando. Como uma serpente espreita sua presa. Então, lançou o primeiro golpe. “E aí, Brit? A gravidez está indo bem? Sem complicações, né?
Com seu… histórico de ansiedade, imagino que esteja sendo um desafio.” A voz era doce. Mas o veneno estava lá. Pit apertou a faca contra o prato. “Ela está ótima”, respondeu, frio. Mia sorriu e se levantou, erguendo a taça.
“Aliás, Brit, deve ser difícil para você me ver com meu marido. Seu ex.” Ela fez uma pausa dramática. “Obrigada por nos desejar felicidades. Aposto que foi cansativo competir comigo todos esses anos. Mas admiro sua coragem por estar aqui.”
Silêncio. Brit congelou. Os olhos de Pit escureceram. O ar ficou pesado. Eu vi que ele estava prestes a explodir. Mas antes que pudesse dizer algo, outra voz se ergueu. Nossa prima Helen. “Na verdade”, disse ela, erguendo sua taça,
“eu quero fazer um brinde à Brit. Você foi a melhor prima que eu poderia ter. Quando passei por momentos difíceis na faculdade, foi a primeira a me ajudar.” Então, nossa tia se levantou. “Brit, você ficou noites no hospital
cuidando do meu filho doente, contando histórias para fazê-lo rir. Você tem o coração mais generoso dessa família.” E então, mais vozes. “Brit me ajudou nos estudos.” “Ela organizou o meu casamento.”
“Cuidou da vovó quando ninguém mais se importou.” “Lembra do baile?” Nossa prima Sarah soluçou. “Quando meu par me abandonou, você me encontrou chorando no banheiro, arrumou minha maquiagem e dançou comigo a noite toda.
Me fez sentir que eu importava.” O nó na minha garganta cresceu. Brit estava ali, sem palavras, os olhos brilhando com a enxurrada de reconhecimento. Levantei-me. “Brit, você foi a melhor irmã que eu poderia ter.
Quando eu estava falhando em matemática, você passou horas me ensinando, mesmo cansada, sem nunca reclamar.” O ambiente se preencheu com vozes de gratidão. Mia, por outro lado, estava imóvel.
Pela primeira vez, ninguém olhava para ela. Ninguém ouvia. Pela primeira vez em sua vida, Mia era… invisível. O rosto dela corou de raiva. Ela olhou para nossos pais, esperando que interviessem. E, claro, eles tentaram.
“Já chega!”, gritou nossa mãe. “Mia também faz parte da família! Ela é nosso milagre! Ela sofreu tanto! Mas vocês só falam da Brit!” Foi quando Pit se levantou. E disse a verdade que todos sempre temeram dizer.
Dessa vez, ninguém desviou o olhar. Ninguém fingiu não ouvir. No fim, Mia saiu pisando duro, bufando de ódio. Brit ficou. Ela nunca mais seria invisível.