Rona e Mark levavam uma vida conjugal aparentemente tranquila, até que um instante, à primeira vista insignificante, fez tudo estremecer. No dia do casamento, a voz de Anna ressurgiu – uma velha amiga de escola que agora
brilhava como figurinista em Nova York. Confiante e magnética, ela enfeitiçava os convidados com histórias da grande cidade, arrancando risadas e olhares fascinados. Entre brindes e promessas de amor eterno,
Anna pegou a mão de Mark, sorrindo com um brilho travesso no olhar. “Posso ler seu futuro”, brincou. O que começou como um jogo inofensivo logo deixou uma sombra no ar. Com um tom misterioso,
ela traçou uma linha na palma dele e murmurou: “Vejo um emaranhado de incertezas no coração.” Uma frase solta, dita sem peso, mas que fincou raízes na mente de Rona. No começo, tentou ignorar.
Mas, aos poucos, a dúvida foi crescendo. Mark passou a chegar mais tarde, a desviar o olhar diante de perguntas simples. Cada ligação perdida, cada gesto antes imperceptível, agora parecia suspeito.
As palavras de Anna ecoavam como um feitiço, enredando-a num labirinto de insegurança. O medo transformou-se em urgência. Uma noite, impulsionada pela angústia, Rona apareceu sem avisar no escritório de Mark
– apenas para descobrir que ele já havia saído há horas. O vazio daquela sala foi um soco no estômago. Em casa, quando ele foi para o banho, ela pegou o celular dele com dedos trêmulos. Bloqueado.
Um novo código de acesso. A confirmação silenciosa de que algo estava sendo escondido. Naquela mesma noite, sem rodeios, perguntou: “Você tem outra?” Mark riu, surpreso. Mas para Rona, aquele riso foi um veneno
– exatamente como Anna havia insinuado. O nó no peito apertou, e num ímpeto, decidiu partir. Pegou suas malas e voltou para a casa dos pais, esperando encontrar ali algum alívio. Mas o que encontrou foi um silêncio incômodo,
uma inquietação que não a deixava em paz. Sua mãe tentava confortá-la, mas Rona se agarrava à crença de que sua intuição jamais a enganaria. Determinada a chegar ao fundo da verdade, contratou um detetive.
Semanas se passaram. Nenhum indício. Nenhuma mensagem comprometida. Nenhum encontro secreto. Nada. Mas em vez de alívio, a ausência de provas só alimentava sua frustração. Então veio o Natal.
O calor familiar, as luzes piscando na árvore, risadas ao redor da mesa – tudo contrastava com a tempestade dentro dela. Foi quando seu pai, em meio ao burburinho festivo, lhe disse com um olhar sério:
“E se Anna só estivesse brincando? E se você estiver enxergando um fantasma que não existe?” As palavras lhe atravessaram como um relâmpago. Movida pela dúvida, ligou para Mark e pediu para se encontrarem.
Quando finalmente se viram, ele parecia familiar e, ao mesmo tempo, distante. Com um nó na garganta, ela confessou que havia contratado um detetive. Mas ao invés de raiva, encontrou em Mark apenas uma tristeza profunda.
“Achei que você me conhecesse melhor”, foi tudo o que disse. Antes que pudesse responder, seu celular tocou. Era o detetive. “Acho que tenho algo”, anunciou. “Seu marido foi visto com uma mulher num restaurante.” O coração de Rona disparou.
Deixou tudo para trás e correu até o local indicado. Parou na porta, o peito arfante. E então viu. Mark. Sentado com Anna. O sangue ferveu. “Mark! O que diabos está acontecendo?” Sua voz cortou o ar como uma lâmina.
Mas ao invés de negar, ele olhou para ela com uma calma dolorosa. “Deixa eu te mostrar uma coisa”, disse, pegando o celular e apertando o play. A gravação preencheu o espaço entre eles: “Eu te amo, Mark”, disse Anna.
“Achei que se plantasse a dúvida na cabeça da Rona, ela acabaria te afastando.” O silêncio caiu como um véu. Anna empalideceu. Seu jogo estava acabado. Rona sentiu as pernas fraquejarem.
Meses de sofrimento, desconfiança, noites em claro – tudo fruto de uma mentira. Mark a observava, vulnerável. “Eu precisava que você soubesse a verdade antes de me perder de vez.” Ela inspirou fundo.
Sentiu as muralhas em volta de seu coração começarem a ruir. Naquela noite, sentaram-se frente a frente, finalmente desnudando suas dores. Falaram das feridas, das inseguranças, da mágoa. Mas também falaram do que ainda restava.
A reconstrução não foi fácil. Mas juntos, decidiram tentar. Procuraram terapia, aprenderam a se ouvir, a enfrentar os medos de mãos dadas. Quando o contrato do apartamento venceu, tomaram uma decisão. Era hora de um recomeço.
Na soleira da porta, olharam uma última vez para trás. Depois, saíram de mãos dadas – não rumo a um final feliz, mas a uma segunda chance.