„Ele precisa ir para o hospital“, disse a garota congelando na estrada, segurando uma criança nos braços.

ENTRETENIMENTO

Era uma manhã fria e cinza de inverno quando o ônibus avançava lentamente pela rua deserta. O horário parecia quase uma promessa silenciosa de que o mundo lá fora permaneceria calmo e sem pressa.

Nos bancos traseiros, dois estudantes estavam absortos em suas telas, com os rostos abaixados, os olhos fixos nos celulares. Não viam a paisagem que se estendia além das janelas, que se transformava em uma infinita tela branca.

Nos rostos dos dois jovens, havia algo da indiferença da juventude, como se tentassem escapar do mundo sem perceber o que realmente importava.

À janela, de um lado, um homem idoso estava concentrado em seu jornal, mas suas mãos tremiam enquanto ele retirava os óculos e os colocava de volta, como se procurasse algo que não conseguisse encontrar.

Parecia buscar desesperadamente por algo perdido, como se o que restava dele fosse uma lembrança desvanecida de um passado que não conseguia soltar. Na frente, um jovem casal estava aconchegado,

como se nos braços um do outro pudessem esquecer o resto do mundo. Seus rostos estavam imersos numa calma morna, que só existia quando estavam juntos. Quase dormiam, seus corpos entrelaçados como se fossem um só, em um casulo de ternura e segurança.

O ônibus continuava seu caminho devagar, como se tivesse caído em um sono profundo. A rua estava vazia e o mundo parecia ter entrado em um tipo de sono tranquilo, onde o vento apenas acariciava o ar gelado e o céu,

nublado, não dava sinais de tempestade. E então, de repente, ela apareceu – uma figura na beira da estrada.

Uma mulher. Ela estava parada, como se tivesse sido transportada para outra realidade. Sem movimentos, sem gestos, como se quisesse que o ônibus a notasse. Ficou ali, como se o tempo tivesse parado por um momento,

esperando por algo que jamais chegaria. Seu rosto estava congelado pelo frio, seus movimentos quase invisíveis. E então, nas suas mãos, Alexej Petrovich viu algo – uma criança. Um pequeno menino,

envolto em um grosso cachecol, que parecia mal respirar, como se o vento tivesse tirado a vida dele. «Que coisa louca», murmurou Alexej, apertando o volante com mais força. Mas seus olhos ficaram fixos na mulher, que aguardava.

«Ei, o que você está fazendo aí fora, com esse frio?», gritou ele, abrindo um pouco a janela. A mulher se assustou, como se não tivesse esperado ser notada. Devagar, como se não quisesse incomodar ninguém,

deu um passo em direção ao ônibus, mas não levantou o olhar. «Desculpe… Estou esperando por uma carona», respondeu ela com uma voz tão distante que parecia vinda de outro lugar. Alexej franziu a testa. «Uma carona? Com esse tempo?»

Ele não pôde evitar um sorriso. Quem iria sair de um ônibus quente por um vento cortante, sem necessidade? Ele queria seguir viagem, mas algo no olhar dela o deteve. «Aqui têm ônibus», disse ele. «Por que não entra e viaja comigo?»

A mulher, que parecia em transe, sussurrou: «Eu preciso ir ao hospital. Meu filho não está bem… a situação piorou durante a noite. Mas eu não tenho dinheiro para um táxi, e o ônibus… ele não passa.»

Alexej olhou para o menino em seus braços, que estava tão imóvel que dava a impressão de que o frio o havia petrificado. Seu hálito era quase imperceptível, como se fosse sustentado apenas pelo amor da mãe.

Sem hesitar, sem dar espaço a mais perguntas, ele disse: «Entre. Já chega de esperar.» A mulher entrou com cautela, como se cada passo fosse uma ameaça à vida do filho. Ela se sentou perto do aquecedor,

onde o calor envolveu seu corpo como um abraço acolhedor. Aos poucos, a dor do frio foi embora. Seu respirar se acalmou. Ela murmurou um agradecido «obrigada», e pousou o filho cuidadosamente em seu colo,

seus olhos, cansados mas esperançosos, fixos no destino. Os outros passageiros a observaram, mas ninguém disse nada. Todos estavam imersos em seus próprios pensamentos, como se o momento fosse grande demais,

profundo demais, para ser comentado. Mas o olhar da mulher, a imagem dela com o filho nos braços, era impossível de ignorar. Alexej Petrovich sabia o que fazer. Não havia tempo para perguntas, nem para explicações. Só havia uma direção: para frente.

«Não se preocupe», disse ele, enquanto ela reclinava a cabeça, como se desejasse descansar por alguns minutos. «O mais importante é que vamos chegar rápido ao hospital.» Ela assentiu fracamente, apertando ainda mais o filho contra o peito.

Já havia enfrentado tantas noites em claro, lutado, sofrido, esperado, mas nunca desistido. Agora, ela se sentia mais segura – mesmo sem entender por que aquele estranho a estava ajudando. O ônibus seguiu,

mas o momento permaneceu. O tempo parecia suspenso enquanto ele a observava, se perguntando o que ela havia vivido. Por que estava sozinha? O que ela havia perdido? Mas ele sabia: às vezes, em momentos de escuridão,

nos encontramos sem perceber, e é exatamente nesses momentos que um simples gesto de ajuda pode mudar tudo. Quando o ônibus finalmente parou diante do hospital, ele não hesitou. «Vá, eu espero», disse com voz calma e firme.

A mulher se virou, seus olhos cheios de surpresa e gratidão. Ela sabia que não tinha nada a oferecer em troca, mas olhou nos olhos dele e viu algo que palavras não poderiam expressar. «Você vai esperar mesmo?»,

perguntou, ainda sem acreditar que alguém iria ficar na rua com aquele frio só para ajudá-la. «Claro, eu vou esperar», respondeu ele. «Onde mais eu poderia ir?» E quando ela e o filho desapareceram dentro do hospital,

Alexej soube, com certeza, que havia tomado a decisão certa naquele momento.

 

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