A mulher idosa sorri ao reconhecer a assinatura na carta que acompanha a grande doação para o antigo asilo.

ENTRETENIMENTO

«O que demora, finalmente chega ao seu devido valor,» costumava dizer a velha Eleanor. Mas para a enfermeira Claire, essa sabedoria não era fácil de abraçar. Muitas vezes, ela testemunhara como as pessoas, cegas pela confiança,

acabavam por perder tudo – e agora, Eleanor estava prestes a fazer o mesmo. Depois de dar ao filho o acesso a todas as suas economias, ela havia escapado por pouco do completo colapso financeiro.

Contudo, como se o destino tivesse sua própria mão nisso, ela recebeu uma encomenda do passado que iria mudar tudo. O ambiente estava imerso na quietude de tempos passados. Cada canto parecia sussurrar histórias,

imortalizadas no aroma de madeira envelhecida, no suave toque de lavanda que emergia das almofadas, e no crepitar do fogo moribundo na lareira. A luz suave da tarde filtrava-se pelas cortinas delicadas,

criando padrões dançantes sobre a parede já desbotada. Era um lugar de silêncio aconchegante, impregnado de memórias. Sentada em sua poltrona, já desgastada pelo tempo, mas ainda assim amada,

Eleanor tinha as mãos suavemente cruzadas sobre um cobertor bordado, cujos fios haviam perdido a cor – assim como os rostos que povoavam sua memória. Seu olhar se perdia entre as manchas de sol e as sombras que dançavam em seus pensamentos.

O tique-taque constante do relógio na parede preenchia o vazio, como um pulsar silencioso do tempo que escapava por entre seus dedos. Os olhos de Eleanor se fixaram no antigo relógio de pêndulo – um presente de casamento,

agora um mudo testemunho de uma vida que lentamente se dissolvia em lembranças. Então, um som. Um toque suave, quase hesitante. A porta se abriu, e Claire entrou. Seu sorriso, caloroso e reconfortante, afastou as sombras que pairavam sobre o ambiente.

«Você tem visita,» disse ela com suavidade, a voz sendo como uma melodia tranquila. Eleanor se ergueu um pouco, o suficiente para que sua postura fosse mais ereta, embora seu corpo já não fosse mais o mesmo. Nos seus olhos, uma leve faísca de expectativa brilhou.

«Visita? Então, deixe-o entrar, querida.» Momentos depois, passos calculados ecoaram no espaço. Um perfume forte de colônia francesa misturava-se com o familiar cheiro de madeira e lavanda. Andrew.

Ele entrou com a presença de um homem acostumado a ser o centro de tudo. Alto, elegante, vestindo um terno impecável. Seu olhar, frio e distante, não transmitia alegria, mas um cálculo calculado. «Mãe,» disse ele, com um tom breve.

Eleanor sorriu, uma centelha de esperança brilhando em seus olhos. «Andrew, meu querido… que surpresa!» Sua voz era repleta de afeto, mas uma leve linha de preocupação surgia em sua testa. Andrew não perdeu tempo com formalidades.

Com um movimento fluido, ele retirou uma pasta de couro de sua maleta e a colocou com um pequeno clique na mesa ao lado. «Mãe, você precisa assinar aqui.» Sua voz era calma, mas sem um traço de ternura.

Nenhuma pergunta sobre seu bem-estar, nada de «como você está». «É só uma formalidade. Isso me dá poder sobre suas contas e propriedades. Eu cuido de tudo – será mais simples assim.» Eleanor hesitou, seus dedos pairando sobre a pasta.

«Oh, Andrew, se isso te ajudar…» começou ela. Mas antes que sua mão pudesse tocar a caneta, Claire fez um movimento suave, mas decidido. Ela avançou devagar, seus olhos, antes gentis, agora mais firmes, e sua voz, antes carinhosa,

agora infundida com uma autoridade sutil, mas clara. «Madame,» disse ela com calma, porém sem dúvida, «talvez seja melhor olhar esses documentos mais tarde. Você teve um dia longo. Deveria descansar.»

Andrew virou-se lentamente para ela, um sorriso, mais calculado do que sincero, surgindo em seus lábios. «É só uma assinatura,» retrucou ele. «Mais tarde,» repetiu Claire, sua voz firme como uma rocha.

Houve um momento de silêncio. Eleanor olhou para os dois, seu olhar confuso. Finalmente, ela deu um leve aceno de cabeça. «Tudo bem, Andrew. Faremos isso depois.» Andrew endireitou os ombros, um breve flash de impaciência passando por seu rosto.

«Está bem. Eu volto amanhã.» Ele se virou e saiu sem uma palavra de despedida, sem um beijo na testa. Só o eco de seus passos se desvanecendo. O jardim parecia um pequeno paraíso. Rosas luxuosas subiam pelas pérgolas,

suas flores banhadas pela luz dourada da tarde. Uma fonte pequena borbulhava suavemente, com a água brilhando como ouro derretido. Pássaros cantavam entre os galhos, enquanto uma brisa trazia o doce aroma do jasmim pelo ar.

Claire empurrava o cadeirante de Eleanor com cuidado, evitando qualquer irregularidade no terreno de cascalho. «Madame,» começou ela finalmente, sua voz suave, mas com uma dose de preocupação.

«Eu sei que não me diz respeito, mas Andrew… ele não a vê como mãe.» Eleanor deu um pequeno sorriso, como se aquela afirmação não a surpreendesse. «Ah, Claire, ele é apenas ambicioso. Isso não é algo ruim.»

Claire parou e se agachou à frente de Eleanor, suas mãos descansando suavemente nos apoios do braço da cadeira. «Ambicioso? Talvez. Mas ele não quer protegê-la. Ele quer seu dinheiro. E se você der tudo a ele, vai se esquecer de você.»

O sorriso de Eleanor se desvaneceu. Seu olhar, ainda suave, parecia agora refletir uma dor sutil – ou talvez um lampejo de dúvida. Claire respirou fundo. «Este lar de idosos… está em dificuldades. Pode fechar em breve.

Se você investir, não só estaria ajudando a si mesma, mas tantas outras pessoas também.» Uma brisa agitou as pétalas das rosas. Eleanor colocou uma mão trêmula sobre a de Claire. «Querida… vivi minha vida com um princípio:O que demora, finalmente chega ao seu devido valor.»

Ela fechou os olhos por um instante, como se sentisse uma verdade invisível no ar. «Se Andrew quiser meu dinheiro… que ele tenha. O universo vai colocar tudo em seu devido lugar.» Claire abaixou a cabeça, seu coração pesado.

«Espero que você esteja certa,» murmurou ela. Eleanor abriu os olhos novamente, seu olhar se voltando para a fonte, para a luz do sol refletida na água. Um sorriso silencioso tocou seus lábios. «Eu sei que estou,» sussurrou ela.

E por um momento, parecia que o próprio universo estava ouvindo.

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