Amber já tinha deixado a ideia de um amor verdadeiro para trás. Depois de tantas decepções e desilusões, acreditava que um romance de conto de fadas não era para ela.
Até que, em um churrasco na casa dos pais, ela conheceu Steve, um velho amigo de seu pai. E, em um instante, o mundo dela mudou.
A química entre eles foi instantânea, quase elétrica. Em pouco tempo, eles estavam casados, e Amber se viu vivendo um sonho que jamais imaginou ser possível.
A sensação de felicidade durou, mas a verdade é que, como tudo na vida, havia um preço a pagar.
Na noite de núpcias, uma revelação inesperada a abalou profundamente.
Algo que Steve nunca havia mencionado antes. E Amber, sem saber como lidar com a verdade, sentiu sua realidade se despedaçar.
Depois de um longo dia, ela chegou à casa dos pais, sua mente ainda confusa. O carro estacionado de maneira desordenada sobre o gramado a fez parar antes de entrar.
«O que será que está acontecendo agora?», pensou consigo mesma, sabendo que seu pai sempre tinha algo surpresa pronta.
Ao abrir a porta, o aroma familiar de carne assada invadiu suas narinas, acompanhado do som das risadas e conversas. Papai havia, mais uma vez, feito um churrasco para a turma da oficina.
«Amber!» O grito do pai a fez dar um pulo. Ele estava à frente da churrasqueira, como sempre, usando seu avental. «Entra, vem pegar uma bebida! Só os caras da oficina estão aqui.»
Ela suspirou mentalmente, mas, como de costume, respondeu com um sorriso. «Parece que tem metade da cidade aqui,» murmurou, ao tirar os sapatos.
Antes que pudesse se perder na agitação do churrasco, alguém bateu à porta.
O pai, sem hesitar, deixou a churrasqueira e foi atender. «Deve ser o Steve,» disse ele, antes mesmo de olhar. «Você ainda não o conheceu, não é?»
A porta se abriu. Steve entrou. Ele era tudo o que ela não esperava, mas o que desejava.
Alto, com a presença marcante, cabelos grisalhos e olhos profundos, que pareciam enxergar muito além do que qualquer um poderia perceber.
Quando seus olhares se cruzaram, Amber sentiu um arrepio percorrer sua espinha.
«Oi, Amber. Prazer em te conhecer,» disse ele, sua voz calma, quase hipnotizante.
Ele estendeu a mão e, ao tocá-la, ela sentiu algo que não sentia há muito tempo: uma chama acesa, mesmo que ela tentasse ignorá-la.
«Prazer também,» respondeu ela, tentando disfarçar a confusão que sentia. O que estava acontecendo? Como isso podia estar acontecendo?
A noite continuou, mas Amber não conseguiu tirar os olhos de Steve.
Havia algo nele que a atraía, algo misterioso, silencioso, como se ele estivesse carregando um peso invisível, mas ela não conseguia entender o que era.
Quando a festa começou a diminuir e ela se despediu, se dirigiu ao carro, mas, claro, o motor não pegou. «Perfeito,» resmungou, batendo com a mão no volante.
Ela pensou em voltar e pedir ajuda ao pai, mas antes que pudesse, ouviu uma batida na janela.
Era Steve.
«Problemas com o carro?» Ele sorriu, como se consertar carros fosse uma de suas especialidades.
«Sim, não está funcionando. Eu ia pedir ajuda ao meu pai, mas…» Amber começou a falar, mas ele já estava arregaçando as mangas, pronto para agir.
Com as mãos ágeis e experientes, em minutos o carro voltou a funcionar.
«Funcionando como novo,» disse ele, limpando as mãos com um pano, o sorriso de satisfação no rosto.
«Obrigado, Steve,» disse ela, sentindo uma gratidão sincera. «Eu te devo uma.»
Ele deu de ombros, olhando-a com um olhar que fez seu coração acelerar. «Que tal um jantar então? Aí ficamos quites.»
Amber parou, o coração batendo mais rápido. Será que ele estava realmente convidando-a para sair? Algo dentro dela disse que deveria recusar, mas os olhos de Steve a mantiveram firme.
«Sim,» disse ela, antes de pensar muito. «Jantar parece ótimo.»
Seis meses depois, ela estava no quarto de sua infância, de frente para o espelho, vestindo o vestido de noiva. A sensação era surreal.
Nunca imaginou que esse dia chegaria. Ela já tinha 39 anos, e a ideia de encontrar alguém com quem se casaria parecia um sonho distante.
Mas ali estava, prestes a se casar com Steve, o homem que, em tão pouco tempo, havia mudado sua vida.
O casamento foi pequeno, discreto, como Amber sempre quis. Apenas familiares e amigos íntimos. Quando ela se viu no altar, olhando nos olhos de Steve, um sentimento de paz a envolveu.
Pela primeira vez em muito tempo, ela sentia que não havia dúvidas.
«Sim,» sussurrou, tentando conter as lágrimas.
«Sim,» ele repetiu, a voz embargada de emoção.
E naquele momento, se tornaram marido e mulher.
Naquela noite, depois da celebração, os dois estavam finalmente sozinhos. A casa deles — ou melhor, a casa dele, que agora também era dela — parecia silenciosa demais, vazia demais.
Amber foi ao banheiro se trocar, com o coração leve, quase flutuando de felicidade. Mas quando voltou ao quarto, um olhar a paralisou.
Steve estava sentado na beirada da cama, com as costas voltadas para ela. Ele falava baixo, como se estivesse conversando com alguém… mas não havia ninguém ali.
«Eu queria que você estivesse aqui, Stacey. Hoje foi perfeito. Eu queria que você visse o quanto estou feliz,» disse ele, a voz carregada de saudade.
Amber ficou ali, parada, sem entender o que estava acontecendo. Ela sentiu o chão sumir debaixo dos pés.
«Steve?» chamou, sua voz trêmula, quase inaudível.
Ele se virou lentamente, e o olhar de culpa em seu rosto era inconfundível.
«Amber, eu…» Ele não sabia por onde começar.
Ela deu um passo à frente, sentindo o peso das palavras que ainda não haviam sido ditas.
«Com quem… com quem você estava falando?»
Steve suspirou profundamente, e seus ombros caíram.
«Eu estava falando com Stacey. Minha filha.»
Amber ficou sem palavras, seus olhos fixos nele enquanto a verdade começava a se desenrolar. Ela sabia que ele tinha perdido a filha, mas não imaginava a profundidade da dor que ele carregava.
«Ela morreu em um acidente de carro, junto com a mãe,» ele disse, a voz quebrando.
«E às vezes, eu falo com ela. Eu sei que soa louco, mas sinto que ela ainda está por aqui. Especialmente hoje. Eu queria que ela visse isso, que soubesse o quanto estou feliz.»
Amber não sabia o que dizer. O sofrimento dele era palpável, uma dor que parecia irradiar do fundo de sua alma.
Mas, ao invés de raiva, ela sentiu uma tristeza profunda. Tristeza por ele, por tudo o que ele perdeu. E, de algum modo, esse peso também parecia ser dela agora.
Ela se sentou ao lado dele, pegou sua mão com delicadeza e disse, com uma suavidade que só o amor poderia proporcionar: «Eu entendo, Steve. Você não está louco. Você está apenas sofrendo.»
Ele a olhou com olhos cheios de gratidão e dor. «Desculpe. Eu devia ter te contado antes. Não queria assustá-la.»
Amber sorriu suavemente, apertando a mão dele. «Você não me assusta, Steve. Todos nós temos coisas que carregamos, coisas que nos assombram.»
Ela o puxou para um abraço apertado, sentindo a intensidade do que ele estava vivendo. «Mas agora estamos juntos. E podemos carregar isso juntos.»
Ele assentiu, seu corpo relaxando nos braços dela. «Eu estava com medo de não conseguir dividir isso. Mas você me entende, Amber. Eu nunca soube o quanto isso significava para mim.»
Com um olhar firme, Amber o olhou nos olhos e disse: «Nós vamos passar por isso. Juntos.»
Quando ela o beijou, soube, com toda certeza, que iriam enfrentar tudo, o que quer que fosse, lado a lado.
O amor não era perfeito, mas era verdadeiro. E, por mais que fosse imperfeito, era o suficiente.
Porque, no final, não se tratava de encontrar alguém sem cicatrizes, mas de alguém disposto a compartilhar as cicatrizes, as dores e os medos, para curá-los juntos.