Larisa estava sentada à mesa da cozinha, os dedos inquietos sobre a xícara de chá que esfriava aos poucos.
O telefone tocou e, ao atender, ouviu uma voz desconhecida que lhe trouxe uma notícia que parecia vir de outro mundo.
A mensagem era como um golpe direto ao estômago, um misto de pânico e incredulidade tomou conta dela.
O que fazer agora? A pergunta reverberava em sua mente, mas a resposta estava distante, como um eco perdido.
Larisa sempre foi alguém que lidava com suas angústias sozinha. Amigos? Eram como sombras: estavam perto quando o sol brilhou, mas desapareciam nas horas mais sombrias.
E, com o tempo, ela aprendeu que não adiantava buscar consolo nas palavras vazias.
A perda de seus pais havia deixado um vazio que nem o tempo conseguiu preencher, e agora, com a saúde fragilizada, a solidão parecia mais presente do que nunca.
Ela olhou pela janela, vendo o jardim que sempre cultivou com tanto carinho. O sol estava se pondo, mas a luz dourada não conseguia aquecer a frieza que tomava conta de seu peito.
O marido, Oleg, tinha se tornado distante. Comentários sobre o envelhecimento de ambos, comparações com casais mais jovens, as observações sobre sua aparência…
Tudo isso a atingia de maneira cruel.
Ela ainda cuidava de si mesma, mas parecia que ele já a via através de uma lente de distanciamento, como se ela fosse uma imagem embaçada, alguém de quem ele já não se lembrava bem.
Oleg, com seus próprios sinais de envelhecimento, parecia se perder em suas próprias inseguranças.
Outros casais caminhavam lado a lado nas noites frescas de outono, enquanto ela ficava ali, olhando da janela, com um vazio na alma.
O amor, ela sabia, havia se dissipado de maneira silenciosa, como a neblina que envolve a manhã.
Os filhos? Larisa não queria lhes pesar com seus problemas. A filha estava esperando um bebê, e o filho estava em outra cidade, mergulhado nos seus próprios desafios.
Então, restava Oleg. Talvez fosse hora de finalmente fazer a pergunta que martelava em sua mente.
Quando ele chegou, um leve aroma de álcool ainda estava em seus poros. Larisa, com calma, perguntou o que faria se ela ficasse doente, se ele estaria ao seu lado.
A resposta de Oleg foi como um soco no estômago.
Ele admitiu que já pensava em se separar dela há algum tempo. A idade e a doença, aparentemente, haviam sido razões suficientes para ele procurar uma vida nova.
Ele estava, de fato, com outra mulher, e planejava pedir o divórcio antes que fosse tarde demais.
Larisa sentiu uma onda de frieza percorrer seu corpo. A dor era inevitável, mas ela não cedeu. Seus olhos se mantiveram firmes. Confiar nele? Nunca mais.
Ela sabia que o que restava entre eles era apenas uma sombra do que um dia fora. E o único conforto vinha de Artem, seu filho, que não só se mostrou chocado, mas também pragmático.
«Por que não aceitar a herança?» ele sugeriu, com uma clareza que Larisa não esperava. Ele não estava apenas falando de dinheiro, mas de uma oportunidade de recomeçar.
Larisa decidiu agir. O divórcio foi protocolado. A herança, a promessa de um novo começo, pairava diante dela como uma possibilidade real.
Juntamente com Artem, ela voou para o exterior, onde encontrou um advogado que a ajudou a seguir com o processo.
Foi durante esse período que Larisa conheceu Vladimir.
Ele era advogado, mas também alguém que sabia escutar, que via nela mais do que uma mulher fragilizada pela dor de um casamento fracassado.
Ele era gentil e, de alguma forma, suas conversas se tornaram um abrigo seguro para ela.
O apoio de Vladimir não foi apenas legal; ele a acolheu, e logo, a relação que começou de forma profissional evoluiu para algo mais profundo.
Quando retornaram ao país, Larisa se deparou com Oleg novamente, mas ele estava irreconhecível. O homem arrogante e distante agora estava abatido, bêbado, cheio de remorso.
Ele implorou pela sua atenção, mas Larisa já não sentia nada por ele, exceto indiferença.
Ela o olhou por um instante, com um leve suspiro, e virou-se para continuar sua nova vida com Vladimir.
O que foi perdido não podia ser recuperado. Ela já tinha encontrado algo mais genuíno, mais saudável.
O tempo passou, e Larisa floresceu de uma maneira que ela nunca imaginou. Ela se tornou avó, e com Vladimir, construiu uma vida plena. Quando ele lhe pediu em casamento, Larisa não hesitou.
Era o começo de uma nova etapa, um capítulo que ela havia reescrito sozinha, com coragem e força.
Anos depois, Larisa recebeu um telefonema do hospital. Oleg havia sofrido um derrame e pedia por ela.
Era irônico, pensou. Durante todos aqueles anos, ele se afastou de forma tão decisiva, e agora, estava ali, vulnerável, pedindo ajuda.
Larisa conversou com seus filhos e decidiram, em conjunto, que iriam visitá-lo.
Ela foi, mas ao vê-lo ali, frágil, dependente de estranhos para sobreviver, Larisa não pôde evitar refletir sobre tudo o que ele representou em sua vida.
A dor do passado não a consumiu, mas foi impossível não ver a ironia de tudo aquilo.
Ela contratou uma enfermeira para cuidar dele, mas sabia que aquele era o último capítulo da história deles. Seus filhos, embora solidários, sabiam que não havia mais nada a ser feito. O ciclo estava fechado.
Larisa nunca se arrependeu da escolha que fez. A separação a libertou.
Hoje, com Vladimir ao seu lado e seus filhos e netos ao redor, ela sabia que a verdadeira felicidade não estava nas promessas quebradas do passado,
mas na liberdade de seguir em frente e fazer novas escolhas, por si mesma.
Ela agora entendia que o verdadeiro poder estava em reescrever sua história, de escolher o que manter e o que deixar para trás, e, acima de tudo, de se dar a chance de ser feliz novamente.