Era 2h13 da madrugada quando a voz de Ryan cortou a tranquilidade da noite e me arrancou de um sono perturbado. No início, pensei que ele estivesse apenas resmungando durante um sonho,
murmurando palavras desconexas, como alguém ainda preso ao cansaço de um longo e exaustivo dia de trabalho.Mas, ao me virar, percebi que seu lado da cama estava vazio.
Confusa, pisquei para a escuridão, meu coração acelerando sem motivo aparente. Então, sua voz ecoou novamente, tensa e abafada, vindo da sala de estar.
Uma sensação de angústia me envolveu, pesada como um fardo, enquanto eu me levantava com dificuldade da cama. Minha barriga, já grande e pesada, tornava cada movimento desajeitado, como se eu estivesse lutando contra uma maré de cansaço.
Descalça, caminhei silenciosamente pelo chão frio de madeira, controlando a respiração. Cada passo parecia ecoar como um trovão em meus ouvidos. Na sala, Ryan estava de costas para mim, olhando para a escuridão da noite, com o celular pressionado contra o rosto.
«Não se preocupe», ele disse, com um tom suave, mas firme. «Eu vou dar um jeito. Ela não desconfiou de nada.» Uma dor cortante me atravessou o peito. Quem era essa «ela»? O que era isso que eu não deveria saber?
«Eu só preciso de mais um pouco de tempo», ele continuou, sua voz quase carinhosa. «Assim que o bebê nascer, vou encontrar uma forma de deixá-la. Só precisamos ser pacientes.»
Um arrepio gelado percorreu minha espinha. Ryan estava decidindo me abandonar. Não algum dia distante, mas logo após o nascimento do nosso filho.
Então, tudo se esclareceu. Não estava sozinho nisso. Havia outra pessoa. Uma mulher, com quem ele compartilhava confidências enquanto eu, completamente alheia, estava do outro lado da casa.
Minha mão foi rapidamente à boca para abafar o soluço que se formava, mas as lágrimas já ameaçavam cair. No entanto, eu lutei contra elas.Com cautela, me retirei para o quarto. Meu coração batia forte, como um tambor dentro de meu peito.
Me encolhi nas cobertas e finquei os olhos no teto, tentando fingir que tudo estava bem.Momentos depois, Ryan voltou para a cama, sua respiração calma e regular, como se nada tivesse acontecido. Como se ele ainda fosse o homem que eu pensava conhecer.
No dia seguinte, não o confrontei diretamente. Esperei até ele entrar no banho e, então, aproveitei para pegar seu celular.Em poucos segundos, encontrei o que procurava.O nome dela era Clara.
As mensagens estavam saturadas de palavras doces e promessas de um futuro juntos, repletas de planos traiçoeiros. Ela se referia ao nosso filho como «o obstáculo».
Minhas mãos tremiam enquanto eu lia suas palavras. Ryan havia prometido a ela que me deixaria assim que o bebê nascesse. Ele dizia que estava infeliz, que apenas ficava comigo por obrigação.
A dor foi como um punhal de gelo perfurando meu peito, mas algo dentro de mim despertou – uma força imbatível.Ouando Ryan saiu do banho, me encontrei sentada na beirada da cama, com o celular dele apertado nas mãos.
Ele congelou ao me ver, com a toalha caindo de seus ombros.»Você quer me explicar alguma coisa?», perguntei, minha voz suave, mas com uma lâmina afiada por trás.
«Emma, não é o que você pensa—»»Não me minta», cortei-o, minha voz cortante. «Não finja que é outra coisa além do que é claro.»Ele baixou os olhos, como se o peso da verdade o esmagasse.
«Eu ia te contar…»»Quando, Ryan? Depois do parto? Quando já tivesse ido embora?» Minha voz tremia, mas era firme como aço.Ele tentou falar, mas eu levantei a mão, pedindo silêncio.
«Não. Chega. Não quero mais ouvir.»Na manhã seguinte, liguei para um advogado.A decisão de pedir o divórcio foi mais fácil do que eu imaginava. Ryan havia me deixado claro que nem eu, nem nossa família, éramos mais do que fardos para ele.
Ao meio-dia, comecei a arrumar minhas coisas para ir até minha irmã. Quando estava prestes a fechar a mala, Ryan entrou no quarto, com o rosto pálido e desesperado.
«Emma, por favor! Podemos resolver isso! Eu vou terminar com Clara!»
«Não», respondi com uma calma implacável. «Você fez sua escolha. Agora é a minha vez de fazer a minha.»
Ele recuou, derrotado e vazio, enquanto eu passava por ele, sem nem olhar para trás.
Na estrada para a casa de minha irmã, as lágrimas começaram a cair, mas não eram de arrependimento. Eram lágrimas de alívio.
Naquela noite, enquanto me deitava no quarto de hóspedes e sentia a mão acolhedora de minha irmã sobre meu ombro, o bebê deu um pequeno, mas firme movimento.
E, naquele instante, soube que minha nova vida começava. Uma vida sem mentiras, sem sombras. Uma vida cheia de liberdade e, acima de tudo, de esperança.