«Você novamente não fez nada!» O grito de Maria Pawlowna ecoou por todo o apartamento assim que Jelena entrou na sala.
Sua sogra estava parada na janela, com os braços cruzados sobre o peito, observando-a com um olhar de profundo reproche.
Jelena suspirou pesadamente, tentando não se deixar envolver pela provocação. Não era a primeira vez, e cada vez que voltava para casa, esperava essas palavras como uma parte inevitável de sua vida.
«Maria Pawlowna,» começou Jelena, tentando manter a calma, embora por dentro estivesse prestes a explodir, «limpei a casa o dia todo e depois fui às compras. O que mais eu deveria ter feito?»
A sogra não se virou, apenas soltou um sorriso de desprezo.
«Claro, limpou,» disse com um tom cortante. «Seu conceito de limpeza é… bem peculiar. E o que era isso nas compras? Novamente coisas desnecessárias?»
Jelena sentiu os ombros se contraírem com a frustração.
Era sempre a mesma coisa: Maria Pawlowna se metia em todos os aspectos de sua vida, desde as tarefas domésticas até o que ela devia preparar para o jantar.
Nos últimos anos, desde que moravam sob o mesmo teto, a vida de Jelena se transformou em uma luta constante para encontrar seu espaço dentro daquela família.
«Comprei alimentos para o jantar,» respondeu Jelena, tentando esconder sua raiva. «Essas ‘coisas desnecessárias’ que você menciona são, na verdade, o que nossa família precisa.»
Maria Pawlowna finalmente se virou para ela. Seus olhos estavam cheios de desaprovação.
«Se você soubesse como administrar uma casa corretamente,» disse com dureza, «saberia como economizar na alimentação. Sempre disse ao Anton que você não tem o juízo necessário para administrar um lar.»
Jelena congelou, suas mãos se apertaram em punhos. Ela era uma boa esposa e mãe, sempre se esforçando ao máximo para cuidar da família.
Mas com Maria Pawlowna era impossível. Ela nunca dava trégua, sempre encontrava algo para criticar.
«Maria Pawlowna,» começou Jelena, sentindo a raiva crescer dentro de si, «esta é a nossa casa. Eu vivo aqui com meu marido e meu filho, e tenho o direito de decidir como administrar nosso lar.»
A sogra franziu a testa, e seu rosto se tornou ainda mais severo.
«Ah é?» perguntou com um tom sarcástico. «Você acha que pode cuidar da casa melhor do que eu? Você mal consegue preparar uma refeição decente!»
Jelena não conseguiu mais se conter. As palavras da sogra a atingiram como um tapa na cara.
«Eu não preciso te dar explicações,» respondeu com firmeza. «Esta é minha vida, e eu tenho o direito de tomar decisões na minha própria casa.»
Essas palavras pairaram no ar como um peso, e o ambiente se encheu de um silêncio denso.
Maria Pawlowna a olhou como se ela tivesse dito algo completamente inaceitável, algo que não deveria ter sido dito.
«Então é assim que fala comigo, na minha casa?» perguntou friamente. «Eu vivo aqui a minha vida inteira, e você não tem o direito de me mandar embora.»
Jelena ficou paralisada. Sabia que suas palavras haviam sido duras demais, mas já não havia como voltar atrás.
Depois de tantos anos de críticas constantes e controle, ela precisava de espaço, do direito de viver sua vida.
«Não estou dizendo que você deve sair,» respondeu Jelena, dessa vez com uma voz mais suave.
«Mas você precisa entender que eu e o Anton agora estamos formando nossa própria família. Você não pode se intrometer em todas as nossas decisões.»
Maria Pawlowna apertou os lábios, seu rosto mostrando uma mistura de mágoa e desaprovação.
«Eu só queria ajudar,» disse, finalmente, com a voz mais calma, mas ainda carregada de decepção. «Sempre quis que meu filho vivesse com dignidade e ordem, e você não entende isso.»
Jelena a olhou, sentindo um aperto no coração. Ela sabia que Maria Pawlowna amava seu filho, mas aquele amor estava se transformando em uma necessidade de controlar cada detalhe de suas vidas.
«Apreciamos sua ajuda,» disse Jelena com suavidade, «mas precisamos aprender a ser uma família por conta própria.»
Maria Pawlowna ficou em silêncio por um longo momento antes de responder.
«Está bem,» disse ela finalmente, com a voz calma e quase resignada. «Não vou mais me intrometer. Mas lembre-se, se algo der errado, sempre estarei por perto.»
Jelena respirou fundo, sentindo um alívio, como se aquele fosse o primeiro passo para a paz em sua casa.
Mas no fundo de seu coração, ainda havia um gosto amargo. O conflito, ela sabia, não estava nem perto de terminar.