„Sua avó, mas o apartamento é nosso território!“

ENTRETENIMENTO

Maxim foi acordado no meio da noite por um telefone que parecia vir de outro mundo, distante e urgente. Quando ele atendeu, a voz de Tatjana, sua vizinha, tremia no outro lado da linha.

Ela estava visivelmente perturbada, quase sem fôlego, e suas palavras se atropelavam, apressadas e cheias de pânico.

«Maxim… eu ouvi barulhos… algo estranho… alguém entrou no seu apartamento!»

Ela explicou que ouvira a porta batendo violentamente, como se alguém tivesse entrado forçadamente.

Inicialmente pensou que fosse sua imaginação, mas a sensação de que algo estava profundamente errado se solidificava a cada segundo.

«Devo chamar a polícia?», perguntou Tatjana, a voz quebrada pela ansiedade.

Maxim ainda não conseguia entender direito. Seus olhos estavam grudados no teto, tentando se concentrar enquanto a confusão do sono se desfazia lentamente.

Sonja, sua esposa, continuava em um sono profundo, inconsciente do turbilhão que começava a se formar ao redor deles.

Ele se levantou lentamente, a cabeça pesada e cheia de pensamentos desencontrados, e passou silenciosamente por ela para vestir a jaqueta. Era tarde, muito tarde, para algo assim.

Mas não podia esperar. Precisava ir até lá, ver com seus próprios olhos.

Tatjana continuou, ainda nervosa, tentando entender o que estava acontecendo.

Ela não tinha certeza se o barulho vinha de um intruso ou se, por algum motivo, poderia ser alguém da família com uma cópia da chave.

Ela estava dividida entre o medo e a dúvida, mas o instinto dizia-lhe que algo não estava certo.

«Eu vou ligar para a polícia», respondeu Maxim, tentando acalmar a vizinha, mas havia algo estranho em tudo isso. Algo que ele não conseguia identificar, mas que lhe dava um nó na garganta.

Ele sentiu que não era apenas um simples incidente.

Ao chegar perto de casa, Maxim viu as luzes azuis piscando, cortando a escuridão da madrugada como uma lâmina fria.

A sensação de pavor tomou conta dele enquanto o carro da polícia parava em frente ao prédio. Tatjana estava lá, em pé na porta, com os olhos arregalados, pálidos como se tivesse visto um fantasma.

«Houve algum progresso?», perguntou ele, a voz falha de nervosismo.

O policial, um homem idoso com semblante fechado, olhou para ele com uma seriedade que parecia de outro tempo.

«Não encontramos nada ainda», disse o policial, «mas parece que a porta não foi arrombada. A impressão é que alguém usou uma chave para entrar.»

O coração de Maxim afundou. Uma chave. Mas… quem mais além de sua família teria acesso a ela? Ele e Sonja eram os únicos com cópias, mas ninguém lhe avisara que iriam entrar.

A sensação de desconforto foi crescendo, virando uma tensão palpável.

«Talvez tenha sido alguém da família», sugeriu o policial, em voz baixa. «Mas se entraram sem permissão, é uma invasão, não importa quem seja.»

Maxim avançou até a porta do seu apartamento, a respiração acelerada, o corpo tenso. A cada passo, o peso da situação se tornava mais insuportável.

Ele hesitou por um momento, o pensamento de entrar sem saber o que o esperava o fazia hesitar. Mas o que poderia fazer? Deveria esperar ainda mais, até que alguém descobrisse algo?

Foi então que uma voz soou de dentro do apartamento, fria como uma lâmina cortando o ar. «Maxim, é realmente você?», perguntou sua mãe, que estava dentro de sua casa com seu tio.

«Sim», respondeu Maxim, a voz rouca. «Eu tenho a chave. O que estão fazendo aqui?»

A resposta não demorou a chegar, e foi como um golpe no estômago. «Porque você pegou tudo, Maxim! Você pegou tudo o que era nosso!»

As palavras saíam com uma raiva contida, mas ao mesmo tempo com uma desesperança profunda. «Não é só seu, Maxim. Sempre fomos nós quem cuidamos da avó.

E agora, quando tudo acabou, você pegou o que era nosso. Todo o direito, todo o legado, tudo.»

Maxim ficou paralisado, como se tivesse sido golpeado por algo mais forte que o simples choque. A dor de ouvir sua mãe, a mulher que sempre achara conhecer, falar assim, rasgava-o por dentro.

Ele tinha sido o único a cuidar da avó. Ele estava ali, dia após dia, se sacrificando para que ela não ficasse sozinha. E agora, quando ela finalmente se foi, tudo parecia ter virado um jogo sujo de disputas.

«Isso é meu», ele disse com uma calma tensa, uma dor escondida sob a voz. «Eu cuidei dela, eu fui o único que esteve ao lado dela. Vocês nunca se importaram o suficiente, então parem de me acusar!»

Mas sua mãe não parava. «Você não fez isso por ela! Você fez por você, Maxim! Fez porque queria o que ela tinha! Agora quer negar tudo, não é? Pegou tudo de nós e ainda tem a cara de pau de chamar isso de ‘seu’?»

A dor no peito de Maxim se transformou em algo mais profundo, algo que ele não podia mais ignorar. Ele se sentia traído, manipulado, não só pela situação, mas pelas palavras de sua mãe.

Ele sabia que essa briga nunca teria fim. A questão não era o apartamento, mas o que isso significava para eles, para a família que ele tentara proteger de todas as maneiras.

«Eu vou abrir essa porta», disse Maxim, com uma determinação que quase o assusta. «Se vocês não saírem, eu arrebento ela.»

«Você não vai fazer nada disso, Maxim!», gritou sua mãe, a voz ferina. «Isso não é sua casa. Isso é nosso legado!»

Maxim sentiu uma onda de raiva e impotência, mas, ao mesmo tempo, uma triste resignação.

Ele respirou fundo, fechando os olhos por um momento, tentando se acalmar. Sabia que não podia mais confiar em sua família. Eles não estavam mais ao seu lado.

O que ele acreditava ser amor, cuidado, não passava de uma guerra disfarçada.

Ele olhou para Sonja, que o acompanhava em silêncio, com os olhos cheios de compreensão, mas também de uma tristeza profunda.

Ela se aproximou dele, pegando sua mão, e disse suavemente, quase como se estivesse acalmando não apenas ele, mas a ambos.

«Você não precisa dividir tudo, Maxim», disse ela. «Você tem razão. Você cuidou dela. Você mereceu o que conquistou.»

Maxim olhou para ela, e naquele momento sentiu uma calmaria, mas também uma dor que não passava. Ele sabia o que precisava fazer. Não podia mais permitir que sua família o esmagasse.

Mas, no fundo, algo dentro dele sabia que essa guerra não teria fim tão cedo. Ele teria que lutar muito mais. Para sempre.

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