— O que você quer de mim? — Lena estava na porta, a expressão fechada, os braços firmemente cruzados sobre o peito. Sua raiva estava latente, mas ela fazia questão de manter a compostura.
À sua frente, Artem, seu ex-marido, olhava para o chão, claramente perdido, sem saber como começar.
Após alguns segundos de silêncio constrangedor, ele finalmente levantou a cabeça e a encarou com cautela.
— Eu… queria conversar, — disse, sua voz hesitante e quase inaudível. — Precisamos falar sobre o Sasha.
Lena respirou fundo, como se tentasse segurar o ar, como se, de algum modo, isso pudesse conter a tempestade que se formava dentro dela.
Artem era a última pessoa que ela queria ver, e muito menos em um momento como aquele.
Seu casamento havia se desfeito em um turbilhão de palavras não ditas e mágoas profundas. Depois da separação, ela passou anos reconstruindo sua vida, tentando preencher os vazios que ele deixara.
Mas Sasha, o filho que tinham em comum, era o único elo que os unia ainda.
Evitar o contato com ele estava fora de questão. — O Sasha está com a minha mãe, — respondeu ela com frieza, a voz cortante como aço. — Podemos conversar, mas não sei o que você acha que ainda pode dizer.
Artem entrou devagar, sentindo a distância invisível que havia entre eles, uma muralha erguida por ele mesmo, com suas próprias mãos.
Ele a havia abandonado quando ela mais precisou, quando estava sozinha, com um filho pequeno e sem saber o que fazer.
Agora, anos depois, ele entendia a gravidade de sua falha, mas o dano já estava feito e, no fundo, sabia que não havia volta.
— Eu quero estar mais presente na vida do Sasha, — disse, quase sussurrando, como se temesse que suas palavras fossem demais. — Eu sei que perdi muito tempo, e me arrependo disso.
Mas eu quero tentar mudar.
Lena se sentou no sofá, os braços ainda cruzados, a postura rígida como uma rocha.
Olhou para ele com um olhar gélido, como se tentasse congelar cada palavra que ele dissesse. Dentro dela, uma tempestade de sentimentos conflitantes fervia.
Ela havia criado Sasha sozinha, sem ajuda, sem o apoio de Artem, e agora ele voltava, como se pudesse voltar atrás no tempo, como se tudo fosse simplesmente se encaixar de novo.
— Você realmente acha que isso vai ser tão simples? — perguntou ela, um sorriso amargo se formando nos lábios.
Seus olhos eram lâminas afiadas. — Você acha que pode só aparecer, pedir desculpas, e tudo vai voltar ao que era?
— Não, — respondeu Artem, e a dor em sua voz era clara, quase palpável. — Eu sei que não é assim que as coisas funcionam.
Eu não estou pedindo perdão, estou pedindo uma oportunidade. Sei que você não tem obrigação de me perdoar. Mas o Sasha é meu filho, e eu quero ser parte da vida dele.
Lena o observou, seus olhos penetrantes, tentando ler as entrelinhas daquilo que ele dizia. Por um instante, viu que ele estava genuinamente arrependido, que suas palavras não eram vazias.
Mas a memória de todos os anos que ela passou sozinha, de todas as vezes que ele não esteve ali, ainda estava fresca, como uma ferida que não cicatrizava.
— Eu não posso forçar o Sasha a te perdoar, — disse ela com voz calma, mas com um peso nos ombros que parecia ser um fardo há muito tempo carregado.
— Você precisa entender que uma conversa não vai resolver tudo. Ele vai precisar de tempo.