Era um sábado como outro qualquer, e minha lista de tarefas parecia interminável. Jake estava no trabalho, e Mia ficou em casa.
Decidi então pedir ao meu irmão, Chris, que cuidasse dela por algumas horas. Ele já havia se oferecido várias vezes, e embora eu ainda tivesse receios em deixá-lo sozinho com ela por muito tempo, achei que seria seguro dessa vez.
Mia adorava o tio e se sentia sempre confortável em sua presença. Pensei que seria uma ótima oportunidade para os dois passarem tempo juntos enquanto eu cuidava das pendências acumuladas.
Mal sabia eu que aquele sábado traria à tona uma situação que abalaria profundamente minha confiança.
Quando voltei para casa, tudo parecia estar em perfeita ordem. Chris estava largado no sofá, completamente absorto no celular, enquanto Mia brincava serenamente com suas bonecas na sala.
Porém, algo em seu rosto não estava certo. Não havia o sorriso brilhante que ela sempre dava ao me ver. Em vez disso, seus olhos pareciam carregados de algo que eu não consegui decifrar imediatamente.
«Oi, minha princesa! Como foi o dia com o tio Chris?» perguntei, forçando um sorriso, mas algo no meu peito apertava.
Ela hesitou. Seus olhos viajavam entre mim e Chris, como se tentasse decidir se deveria falar ou não. Então, com uma voz baixa e quase envergonhada, soltou:
«Mamãe, o tio Chris disse que eu podia brincar lá fora… sozinha.»
Meu coração congelou. «O quê? Sozinha?» perguntei, com a incredulidade estampada no rosto.
Mia assentiu, sem perceber o peso daquelas palavras. «Sim, eu estava no jardim. Não queria mais ficar dentro de casa.»
Uma sensação amarga tomou conta de mim. Sempre deixamos claro que Mia jamais deveria brincar sozinha fora de casa, nem mesmo no jardim. Não era paranoia, era precaução.
Ela tinha apenas sete anos e ainda era vulnerável.
«Chris!», chamei, virando-me para ele, enquanto minha raiva crescia rapidamente. Ele sequer desviou o olhar do celular.
«O que você estava pensando?» perguntei, com a voz firme, tentando segurar o tom de indignação.
Ele finalmente ergueu os olhos, deu de ombros e respondeu com desdém: «Ela estava entediada. O jardim é cercado. Qual é o problema?»
«Qual é o problema? O problema é que você ignorou completamente sua responsabilidade!» gritei, já sem me conter.
«E se algo tivesse acontecido? Se ela tivesse se machucado ou alguém a visse e fizesse algo? Você simplesmente decidiu que queria paz e a deixou sozinha!»
Chris colocou o celular de lado e, pela primeira vez, me encarou de verdade. Mas sua expressão era defensiva, quase desafiadora. «Você está exagerando. Ela está bem. Nada aconteceu.»
«Você não entende, Chris!» explodi. «Não se trata do que aconteceu ou deixou de acontecer. É sobre você ter falhado com algo tão simples, tão básico.»
Enquanto eu falava, percebi Mia começando a chorar baixinho, e meu coração quebrou. Me ajoelhei ao lado dela, abraçando-a com todo o cuidado do mundo.
«Não se preocupe, meu amor. Você não fez nada errado», sussurrei, limpando as lágrimas do seu rosto. «Foi um erro do tio Chris, e eu vou resolver isso.»
Chris levantou-se, claramente irritado. «Você está fazendo uma tempestade em copo d’água», disse, balançando a cabeça. «Ela estava no jardim, não foi para a rua. Qual é o grande drama?»
«Drama? Você realmente não entende, não é?» disse, minha voz agora mais controlada, mas ainda carregada de frustração.
«Não se trata do jardim ser cercado. Se trata de respeitar as regras e de entender que a segurança dela é prioridade.»
«Você fala como se eu fosse um irresponsável. Nada aconteceu!» insistiu, cruzando os braços.
«Não aconteceu porque, por sorte, tudo ficou bem», respondi, mais calma, mas sem esconder a decepção. «Mas isso não apaga o fato de que você ignorou as regras e meu pedido. Eu confiei em você.»
Chris apenas deu um passo para trás, murmurou algo incompreensível e saiu da sala, claramente sem paciência para continuar a discussão.
Olhei para Mia, ainda aconchegada nos meus braços, e senti um peso esmagador. Não era apenas sobre o erro de Chris. Era sobre perceber que nem todos entendiam ou respeitavam o cuidado que eu dedicava à minha filha.
«Você não fez nada de errado, minha pequena», disse novamente, beijando sua testa. «Eu sempre estarei aqui para proteger você.»
Aquele sábado foi um divisor de águas. Percebi que, às vezes, confiar pode custar caro, até mesmo quando se trata de família.
E, acima de tudo, entendi que proteger Mia sempre será minha prioridade, mesmo que isso signifique colocar laços familiares em segundo plano.