A vida, esse grande tabuleiro de xadrez, está sempre nos desafiando com movimentos inesperados e armadilhas traiçoeiras.
Diane Salinger, no alto de seus 63 anos, conhecia bem as regras desse jogo implacável, onde o calor humano às vezes parece se perder em meio ao gelo das relações cotidianas.
Diane tinha enfrentado mais tormentas do que qualquer heroína de romance, e suas lágrimas poderiam encher um oceano. Mas, apesar disso, ela era teimosa como uma tempestade que se recusa a se dissipar.
Quando a vida a golpeava, ela não só se erguia — ela se recriava, mais resiliente, mais destemida e com um brilho desafiador no olhar.
Três anos atrás, o destino a atingiu em cheio. Perdeu o marido, o amor de sua vida, e, como se não bastasse, um tornado cruel destruiu o lar que construíram juntos.
Qualquer um teria sucumbido, mas Diane decidiu que não seria derrotada. Reuniu os destroços, enxugou as lágrimas e começou de novo.
Com suas economias, comprou uma pequena mercearia em uma cidade pitoresca de Michigan, cercada por ruas arborizadas e vizinhos que trocavam sorrisos cordiais.
Era um refúgio para ela: um espaço acolhedor onde cada cliente não levava apenas produtos, mas também um pouco da generosidade e da alma de Diane.
No entanto, nem tudo era tão encantador quanto a paisagem da cidade. Chris Turkle, seu senhorio, era a antítese da bondade que Diane tanto buscava cultivar.
Ele era dono do apartamento que Diane alugava a poucos passos de sua loja — uma conveniência que, infelizmente, vinha acompanhada de um temperamento gélido e inflexível.
Diane sempre foi uma inquilina exemplar: discreta, zelosa e pontual. Mas aquele mês parecia ter conspirado contra ela.
Quando Chris abriu o envelope do aluguel, balançou as notas como se fosse um banqueiro insensível.
«Está faltando cento e vinte dólares, Sra. Salinger», anunciou, com o tom seco de um juiz sem piedade.
Diane sentiu o rosto esquentar de vergonha, mas não perdeu a compostura. Respirou fundo antes de explicar:
«Sr. Turkle, como já lhe disse, tive alguns contratempos.
Estendi crédito para algumas famílias necessitadas. Preciso de um pouco mais de tempo, mas prometo que pagarei o restante em duas semanas.»
Chris estreitou os olhos e cortou a explicação como uma faca cega:
«Eu não sou uma instituição de caridade, Sra. Salinger. Sou um homem de negócios. Se não pode pagar, terá que desocupar o apartamento até o final da semana.»
«Por favor, só mais alguns dias…», implorou Diane, lutando para conter o desespero. «Nunca falhei com o senhor antes, e isso não vai se repetir.»
Chris deu uma risada sarcástica, girou nos calcanhares e foi embora, como se tivesse acabado de fazer um grande favor à humanidade.
Ele sabia que a loja de Diane estava prosperando.
Via o movimento constante, os clientes saindo com sacolas cheias de produtos requintados. Para ele, a desculpa de Diane não passava de uma farsa.
«Apertada? Que conveniente», pensou, com um sorriso cínico no rosto. «Mais uma tentando me passar para trás.»