Meu nome é Bethany, tenho 35 anos, e jamais imaginei que um voo aparentemente inofensivo pudesse virar palco para um espetáculo tão caótico e inesperado.
O que começou como uma simples viagem de rotina transformou-se em uma ópera tragicômica, onde eu e minha filha Ella, de cinco anos, ocupamos o papel de protagonistas involuntárias.
A tarde estava ensolarada quando nos acomodamos em nossos assentos. Ella já estava imersa em seu pequeno universo digital: iPad em mãos, fones cobrindo os ouvidos e um sorriso tranquilo iluminando seu rosto.
Eu, satisfeita com o início promissor, peguei meu livro, ansiosa para aproveitar o tempo de paz.
— Tudo bem, meu amor? — perguntei enquanto ajeitava uma mecha de cabelo dela.
— Sim, mamãe. Posso tomar suco mais tarde? — respondeu sem tirar os olhos da tela.
— Claro que pode. — Sorri, sentindo-me genuinamente grata por aquele momento de harmonia.
Entretanto, a tranquilidade durou pouco. Do outro lado do corredor, uma família chegou esbaforida: um pai, uma mãe e um garoto da idade de Ella.
O menino já entrou no avião chutando o assento à frente e reclamando em alto e bom som.
— Que saco! Eu quero ir embora! — gritou, provocando olhares reprovadores de outros passageiros.
— Já falei que nada de telas, lembra? — disse a mãe, exausta, tentando acalmá-lo. — Seja bonzinho, ok?
Mas o menino parecia hipnotizado pelo brilho do iPad de Ella, que reluzia como um tesouro proibido para ele. Eu já podia sentir que aquela fascinação não terminaria bem.
Não demorou muito para que a mãe, com um sorriso artificial estampado no rosto, se inclinasse em nossa direção.
— Com licença, notei que sua filha está usando um iPad. Nós decidimos que nosso filho não terá acesso a telas, e isso está deixando-o muito irritado. Você poderia, por favor, guardá-lo?
Minha surpresa foi genuína. Respirei fundo antes de responder:
— Entendo sua preocupação, mas minha filha usa o iPad para se distrair durante o voo. Talvez vocês possam trazer algo para entretê-lo?
Ela suspirou, teatralmente.
— Sabe, talvez fosse uma boa ideia reduzir o tempo de tela dela. Faz bem para as crianças.
Meu sorriso se tornou mais contido.
— Agradeço a sugestão, mas, neste momento, meu objetivo é garantir que ela fique tranquila. Cada família tem suas escolhas, não é?
A mulher lançou-me um olhar afiado, mas voltou ao seu assento, claramente insatisfeita.
Enquanto isso, o menino continuava lançando olhares famintos na direção do iPad, como se fosse um pedaço de bolo que ele não podia comer.
Foi então que o impensável aconteceu. Em um movimento que parecia acidental — mas tinha intenção escrita em cada detalhe —, a mulher «esbarrou» no iPad de Ella, derrubando-o no chão.
O som do vidro trincando ecoou como um trovão na cabine.
— Meu iPad! — gritou Ella, os olhos cheios de lágrimas.
A mulher levou as mãos ao peito, em falsa surpresa.
— Ai, meu Deus! Que desastre! Sou tão desastrada… Mas veja pelo lado positivo: talvez seja a chance de sua filha aprender a ficar sem essas coisas, não acha?
Minha indignação crescia como uma tempestade, mas antes que eu pudesse reagir, a comissária de bordo apareceu. A mulher imediatamente adotou o papel de vítima inocente.
— Foi um acidente, juro! Sinto muito! — lamentou, com uma expressão que beirava o cômico.
A comissária nos informou que poderíamos relatar o incidente após o pouso, mas que, no momento, nada poderia ser feito. Ella soluçava baixinho, enquanto eu tentava consolá-la.
Mas o universo, com seu senso de humor implacável, decidiu agir. Sem o iPad como distração, o garoto desencadeou um verdadeiro tornado emocional.
Ele gritava, chutava assentos, puxava as bandejas e, num gesto de pura frustração, derrubou o café quente da mãe em seu colo e dentro de sua bolsa.
O caos atingiu o ápice quando o passaporte da mulher escorregou para fora da bolsa. Antes que ela pudesse pegá-lo, o menino pisou nele, amassando-o e manchando-o de café.
O desespero no rosto dela era quase cômico. Ela tentava salvar o passaporte, agora irreconhecível, enquanto a comissária retornava, informando que um documento naquele estado poderia causar problemas na imigração.
— Como vou embarcar para Paris agora? — ela murmurava, quase em prantos.
Enquanto isso, Ella, já mais calma, olhou para mim com seus grandes olhos brilhantes.
— Mamãe, quando chegarmos em casa, podemos fazer cupcakes?
Sorri, acariciando seu rosto.
— Claro, querida. E podemos decorar com glacê colorido, que tal?
Ao desembarcar, lancei um último olhar para a mulher, ainda segurando o passaporte destruído. Ela parecia à beira de um colapso. Não consegui conter um pequeno sorriso. Às vezes, a vida é a melhor roteirista de comédias.