“Vimos tudo. Não é sua culpa.” Ele acenou com gratidão e saiu correndo, provavelmente à procura de alguém que realmente se importasse com a confusão causada.
Meu sangue fervia. Quem essa mulher pensava que era? Em direção à bagunça, avisei as pessoas ao meu redor para terem cuidado onde pisavam. Um estranho gentil se afastou para buscar um funcionário de manutenção.
“Você consegue acreditar nisso?” perguntei ao homem que havia tentado alertar a mulher antes.
Ele balançou a cabeça, desapontado. “Viajar com animais é um privilégio, não um direito. Algumas pessoas simplesmente não entendem isso.”
“Sou Nora,” disse eu, estendendo a mão para ele.
“Jasper,” respondeu, apertando minha mão com firmeza. “Você está indo a algum lugar que vale a pena?”
“Londres, a negócios. E você?”
“Tóquio. Viagem de negócios.” Conversamos por alguns minutos antes de nos despedirmos. Enquanto me dirigia ao meu portão, a raiva em meu peito não diminuía. E então, a vi novamente.
A mulher exigente estava sentada perto do meu portão, seu cachorro agora latindo incessantemente.
Como se isso não fosse suficiente, ela tocava música no celular, sem fones de ouvido, fazendo com que os outros passageiros se afastassem. Mas eu tive outra ideia. Sentei-me bem ao lado dela.
“Você está indo a negócios para Tóquio?” perguntei com um tom amigável, tentando parecer cordial.
Ela apenas me lançou um olhar fugaz, como se eu fosse irrelevante. “Estou indo para Londres,” respondeu, com um tom ríspido que me fez sentir um frio na espinha.
Eu widen os olhos em uma surpresa forçada. “Oh não! Então você precisa se apressar. O voo foi transferido para o portão 53C. Este é o voo para Tóquio.”
Os olhos dela se arregalaram, e em um movimento rápido, ela agarrou suas bolsas e seu cachorro, saindo em disparada sem nem olhar para o monitor. Não consegui conter um sorriso satisfeito.
O monitor do portão ainda exibia claramente “Londres”, mas ela estava tão centrada em si mesma que não percebeu.
Enquanto a hora do embarque se aproximava, mantive um olho na direção dela. O último chamado ecoou pelo aeroporto, mas não havia sinal dela ou do seu cachorro latindo.
Quando me acomodei em meu assento, uma estranha mistura de satisfação e culpa me invadiu. O avião começou a rolar, e percebi que ela devia ter perdido o voo.
A mulher ao meu lado, de sorriso acolhedor, perguntou: “Primeiro voo para Londres?”
“Não, eu viajo para lá com frequência a negócios. Sou Nora.”
“Mei,” ela se apresentou. “Notei a confusão com a mulher e seu cachorro antes. Você viu se ela embarcou?”
Balancei a cabeça, a culpa aumentando. “Não acho que ela tenha chegado a tempo.”
As sobrancelhas de Mei se ergueram, expressando preocupação. “Sério? Uau, isso é… lamentável.”
Encolhi os ombros, tentando parecer indiferente. “Sim, bem… karma, eu acho.”
Mei assentiu lentamente. “Imagino. Perder um voo é uma grande coisa.” Suas palavras me deixaram inquieta no assento. Será que eu tinha ido longe demais?
“Você está certa,” admiti, minha voz quase inaudível. “Eu estava tão irritada ao ver como ela se comportava com os outros.”
Mei deu uma leve batidinha em meu braço, um gesto de compreensão. “Todos nós temos nossos momentos. O importante é aprender com isso.”
Quando o avião decolou, a culpa me consumia, e as palavras de Mei ecoavam na minha mente.
Fazer com que ela perdesse o voo não era minha intenção original, mas parecia que o universo estava equilibrando as contas pelo comportamento revoltante dela.
Ainda assim, as palavras de Mei ficaram comigo, como um eco persistente. Será que eu realmente dei a ela uma lição ou apenas desci ao nível dela?
A voz da comissária de bordo me tirou de meus pensamentos. “Bebidas, senhoras?”
“Água, por favor,” pediu Mei.
“Eu quero o mesmo, obrigada,” acrescentei. Enquanto tomávamos nossos drinques, Mei se virou para mim, curiosa. “Então, o que te leva a Londres com tanta frequência?”
Senti um alívio pela mudança de assunto. “Trabalho para uma empresa de tecnologia. Estamos expandindo nossa presença na Europa.”
“Parece emocionante,” disse Mei, com os olhos brilhando. “Você tem lugares favoritos na cidade?”
Passamos a próxima hora conversando sobre Londres, nossos empregos e histórias de viagens. A distração era um bálsamo para a culpa que me consumia.
Quando fui ao banheiro, enquanto esperava na fila, ouvi uma conversa que fez meu estômago revirar.
“Sim, uma senhora perdeu seu voo porque alguém deu a ela o número do portão errado,” disse um homem. “Quando eu fui embora, ela estava fazendo um inferno no atendimento ao cliente.”
Senti meu sangue esfriar. Agora era real. Eu realmente contribuí para que ela perdesse seu voo.
Quando voltei ao meu assento, provavelmente estava tão pálida quanto me sentia, porque Mei perguntou, preocupada: “Você está bem? Você parece um pouco pálida.”
Considerei mentir, mas a culpa me consumia. “Posso te contar uma coisa? Prometa que não vai me julgar?”
Mei assentiu, a seriedade em seu olhar. Respirei fundo e contei tudo. O incidente com o cachorro, minha raiva, a informação errada sobre o portão.
Quando terminei, senti como se fosse a pior pessoa do mundo. Mei ficou em silêncio por um momento, considerando minhas palavras. Então, com uma voz calma, disse: “Bem, isso foi definitivamente… criativo.”
Suspirei, o peso da culpa me esmagando. “Sou uma pessoa terrível, não sou?”
“Não,” disse Mei com firmeza, sua voz cheia de empatia. “Você cometeu um erro, sim. Mas pessoas terríveis não se sentem mal por suas ações.”
Suas palavras foram gentis, mas não apagaram minha culpa. “O que eu deveria fazer?”
Mei pensou por um momento. “Bem, você não pode desfazer o que aconteceu. Mas talvez isso possa ser um ponto de virada. Uma lembrança para pensar antes de agir, mesmo quando você está com raiva.”
Assenti lentamente, refletindo. “Você está certa. Só espero que ela também tenha aprendido alguma coisa.”
“Talvez ela tenha,” disse Mei, com um brilho de compreensão nos olhos. “Às vezes, é preciso um choque para nos fazer perceber que nosso comportamento não é aceitável.”
Quando começamos a descer em direção a Londres, fiz uma promessa silenciosa. Usaria essa experiência como uma lição, um lembrete para melhorar, mesmo quando lidasse com pessoas difíceis.
O avião pousou, e enquanto rolávamos para o portão, Mei se virou para mim uma última vez. “Lembre-se, Nora, todos nós estamos em um trabalho em andamento. O importante é sempre tentar ser melhor.”
Sorri agradecida, o coração um pouco mais leve. “Obrigada, Mei. Por me ouvir e pela sabedoria.”
Quando desembarcamos, não pude deixar de procurar os rostos no aeroporto, meio esperando ver a mulher do portão novamente.
É claro que ela não estava lá, mas a lembrança dela e das minhas ações me acompanhariam por muito tempo.
Não sabia se ela havia conseguido embarcar a tempo antes de levantarmos voo, mas não a vi a bordo, nem ouvi seu cachorro.
Fazer com que ela perdesse o voo não era minha intenção original, mas parecia que o universo estava equilibrando as contas pelo comportamento revoltante dela.
Mas enquanto caminhava pelo aeroporto, percebi que o equilíbrio nem sempre se ajusta de maneira tão limpa.
Às vezes, ele simplesmente se inclina para um lado, e nós precisamos encontrar nosso próprio equilíbrio no caos das interações humanas.