Naquela manhã, Rhea subiu a bordo do avião com uma sensação estranha, difícil de explicar.
Algo revirava em seu estômago — tensão, medo, incerteza — como se algo grandioso estivesse prestes a acontecer, algo impossível de conter.
Ela foi a primeira a entrar. A comissária de bordo sorriu para ela, mas Rhea percebeu a pergunta escondida por trás do sorriso: O que essa mulher está fazendo na classe executiva?
O casaco largo que usava há muito perdera o brilho. Seus sapatos estavam gastos, e a bolsa parecia ter enfrentado anos de uso. Ainda assim, caminhava ereta, passos firmes, recusando-se a se deixar abalar pelos olhares ao redor.
Sentou-se junto à janela, em silêncio, segurando a bolsa com cuidado, como se guardasse ali todos os seus tesouros.
O homem ao seu lado — de terno, bem-apessoado, claramente abastado — inicialmente mergulhava no jornal.
Mas ao perceber a presença de Rhea, lançou-lhe um olhar lateral, que logo se tornou rígido. Seu rosto se contorceu em desgosto explícito.
Um instante depois, acenou para a aeromoça e falou com frieza:
— Isso é uma piada? O que ela está fazendo aqui?
A funcionária ficou visivelmente constrangida, mas respondeu com educação:
— Este é o assento dela, senhor. O bilhete é válido para a classe executiva.
Os olhos do homem se estreitaram, ele puxou um lenço branco e o pressionou ao nariz, como se sentisse um cheiro repulsivo.
— Não me interessa o que diz o bilhete — falou com desdém. — Paguei mais caro para não ter que dividir o espaço com gente assim. Essa mulher parece ter saído direto da rua. Isso aqui não é abrigo!
As palavras dele, como dardos venenosos, cortaram o ar. No começo, os demais passageiros apenas escutaram em silêncio, mas logo alguns assentiram, outros murmuraram em apoio.
O burburinho inquieto se transformou em clamor indignado. Um homem se levantou, braços cruzados.
— Isso é um absurdo! Que tipo de serviço é esse? Temos que viajar com pessoas assim?
— Com que dinheiro ela comprou essa passagem? – zombou uma mulher.
Os comissários tentavam acalmar a situação, mas o tumulto já se espalhava. Alguns passageiros bloquearam o corredor, outros exigiam que Rhea fosse retirada do assento.
A mulher permaneceu calada o tempo todo. O rosto pálido, os olhos marejados, mas nenhuma palavra saiu de sua boca. Apenas sussurrava baixinho para si mesma:
— Vai passar… é só aguentar mais um pouco…
Com mãos trêmulas, começou a recolher seus pertences para evitar provocar ainda mais hostilidade. Ao se levantar, perdeu o equilíbrio, escorregou e caiu de joelhos. A bolsa se abriu, espalhando tudo pelo chão do avião.
Ninguém se moveu para ajudá-la. O homem ao lado se encolheu ainda mais, como se quisesse se proteger dela.
O silêncio foi rompido por um gesto suave. Uma senhora idosa, elegante, que até então cochilava algumas fileiras atrás, levantou-se e, sem hesitar, ajoelhou-se ao lado de Rhea.
Começou a recolher os objetos espalhados. O primeiro item que pegou foi uma pequena fotografia — um menino sorria para a câmera.
— Obrigada — murmurou Rhea com a voz embargada, ao pegar a foto de volta. — Ele… ele é meu filho.
A senhora parou por um instante e sorriu com doçura.
— Parece um menino adorável.
As lágrimas de Rhea escorriam sem controle enquanto ela sussurrava:
— Ele está pilotando este avião. Ele é o comandante.
O silêncio que se seguiu foi absoluto.
— Ele tinha cinco anos quando precisei entregá-lo para adoção. Não tinha como cuidar dele.
Desde então, venho tentando encontrá-lo. Descobri há pouco que ele virou piloto, então passei a viajar de aeroporto em aeroporto… com esperança de que um dia eu o veria.
Hoje… finalmente aconteceu. Este foi o meu presente de aniversário. Meu primeiro voo. Só queria… estar perto dele.
Os olhares hostis baixaram. O homem que mais a atacara encolheu-se em silêncio.
Uma comissária pousou a mão suavemente no braço de Rhea.
— Deseja que avisemos o comandante?
Rhea assentiu, trêmula.
— Mas e se ele não quiser me ver? Se estiver magoado comigo?
Antes que alguém pudesse responder, a voz soou no sistema de som:
— Aqui é o comandante. Hoje temos uma passageira muito especial a bordo… minha mãe. É o aniversário dela.
A cabine explodiu em aplausos. A vergonha dissolveu a raiva. A intolerância cedeu lugar ao arrependimento e à empatia.
Ao final do voo, Joseph, o piloto, segurava Rhea em seus braços. Décadas se passaram, mas o amor de mãe, a esperança — e o perdão — triunfaram.