Com setenta e sete anos, vendi tudo — meu velho carro, minhas relíquias antigas, até o relógio que ganhei na aposentadoria — tudo para comprar uma passagem aérea, só de ida.
Uma viagem pela qual esperei a vida inteira, acreditando que um dia aconteceria.
Quase cinquenta anos se passaram desde que vi aquela mulher, o único amor verdadeiro da minha vida.
Nos separamos na juventude, por tolice, e pensei que ela tivesse me esquecido — mas o filho dela respondeu à minha carta, dizendo que ela nunca esqueceu, que sempre esperou pelo nosso reencontro.
Durante o voo, enquanto o avião cortava as nuvens, meu telefone tocou.
As palavras que ouvi rasgaram meu coração como gelo: “Sinto muito… sua mãe faleceu esta noite. Ela esperava muito por você.”
O vazio que preencheu tudo depois foi tão profundo que quase não senti dor, apenas a escuridão silenciosa do mundo.
Ao chegar, comprei um simples buquê de flores do campo e, no silêncio do cemitério, encontrei a lápide com seu nome.
Coloquei ao lado a velha fotografia desbotada, mostrando nossos rostos felizes, e a passagem aérea — a última promessa.
Sentei-me, escutei o sussurro do vento, e senti que ela estava ali, perto de mim — que o amor que guardei a vida toda não se perdeu.
Esta história é sobre a fragilidade do tempo e como rapidamente as chances de um último abraço desaparecem.
Esperei a vida toda por esse momento, mas cheguei tarde demais. E talvez essa seja a maior dor de todas.